sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Poema Nu

(foto: Marcha das Vadias pelo mundo)


O rei está nu
e também o poema
porque a nudez é o órgão
da natura-essência
um poema com o pau pra fora
não tem pena de si mesmo
quer ser momento-agora
tapa que cala o beijo
O pudor pode aposentar
se somos todos iguais
olhos parados no tempo
só giram o mundo pra trás
A liberdade é o escudo
quando o resto pereceu
Se meu corpo te incomoda
você tem um problema, não eu.


Isa Blue

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Entre o Céu e a Terra






"Já era",
ela pensou.
Quando a corda no seu pescoço apertou
e seus pés não encontraram onde se apoiar
se arrependeu quando viu que não tinha mais jeito
e só por um momento pensou em poder voltar
Não podia.
Mas não demorou a asfixia
e seus pensamentos silenciaram com um apito
Sentiu seu pescoço inchado, corpo em delito
até um viu arroxeado com os olhos de fora
Agora tudo que via era a luz quente
seu corpo pendurado entre o céu e a terra
e um prazer de sentir-se em paz finalmente.
Não demora.
Quando perguntada se queria voltar
sem pensar, sem poder se lembrar como era
respondeu que queria,
e lá jogou fora toda sua vida vazia
e todas as dores de antigas histórias
como se vivesse na escuridão

sempre com a impressão metafórica
de que seus pés não tocavam o chão
sempre com a expressão de quem chora
e não consegue ter a paz de volta.


Isa Blue

sábado, 7 de setembro de 2013

Memorial de Lilia

Em agradecimento à Thamar por ter me dado o prazer de ler o seu fabuloso livro. Conheçam:


Matemática

Eu tive hoje duas alegrias.
[Não foram felicidade.
Felicidade é outra coisa.]
E tive uma tristeza profunda.
Portanto, longe de declarar-se empate.

A tristeza ganha da alegria,
pois a quantidade que conta,
nesta inexata matemática,
não é a numérica,
é a sentida.

Mas quem sabe, amanhã,
o placar não muda?
Tristeza profunda tem disso:
faz a gente enxergar
o que nunca antes havia visto.

Portanto, há grandes chances
de mudar o jogo, de virar a maré.
E eu terminar o meu dia,
com vinte alegrias no bolso,
e uma tristeza pequenininha no pé.


Thamar de Araujo Gaiser, em "Memorial de Lilia".

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Do formato da noite...





Good Night tem um bright
um star shine
que o Boa Noite não tem
O que é Boa é diurno
é amarelo taciturno
é um sufoco também
Bon Nuit é sutil
é aquilo que acaba
antes da noite acabar
Como desejasse bons sonhos,
num suspiro de abandono
é a hora de deitar
Gute Nacht é ardente
arranha a garganta
na hora de falar
Parece uma ofensa
que numa noite tão linda
não sabe se encaixar
Por isso eu digo Good Night
porque vejo as estrelas
de Bilac me chamarem
Mas se eu digo Bom Dia
eu vejo a alegria
das palavras me inundarem
Curto e sucinto como o sol
E todas as palavras que sinto
num instante de arrebol.


Isa star shine Blue

terça-feira, 26 de março de 2013

Ensaio sobre a eternidade do que é terno





E ao andar devagar
deixando as mãos se esbarrarem
achamos nas coisas simples
um prenúncio de eternidade
será que vem do que é terno?
Desde que sincero
ainda que a gente não tenha percebido logo de cara
mas as bocas já estavam ocupadas no céu do outro
de todas as línguas que a gente não fala
e só silenciam
mas que seriam úteis para se comunicar em códigos
desde que nada penais
apenas nuvens
criptografadas
mas sempre existe um meio
de inspecionar o elemento
sem que se desconfie da autoria do sentimento
porque, na dúvida, a gente acha que é mentira
e está sempre procurando um jeito
desde que nada sério
de avaliar sentimentos certeiros e errantes,
confesso,
no palco das ilusões e inexatas mediúnicas
que, trocando em miúdos,
pode mesmo ser uma pequena pulga
ou uma pequena prova de recuperação de química
numa segunda-feira pós feriado
Desde que todo esse retrocesso
cesse mesmo as penas
As penas da galinha dos ovos de ouro
E, em nenhum momento,
se desconfie com tanta verdade
que deixe de deixar que as mãos se esbarrem
livremente
pelo céu que elas escolherem penetrar nossos íntimos
olhos pra dentro de nenhum lugar
E tudo se fora
É tudo fora
fora todo o resto.


Isa Blue

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O primeiro Eu Te Amo




O primeiro eu te amo é como se estivéssemos perdendo a virgindade de novo. É tão aliviante quanto se tivesse se livrado do jantar com a sogra, como se tivesse dado de cara com a morte ou como se tivesse acabado de jogar fora a ponta quando a patrulinha passou.
O primeiro eu te amo é tão difícil quanto tirar um elefante de um fusca, é tão difícil quanto terminar um livro bom, quanto dar a volta ao mundo andando de ré.
O primeiro eu te amo é tão chato que parece panqueca, é tão chato quanto contar carneirinhos ou ficar na fila da CAIXA em pleno horário de almoço.
O primeiro eu te amo é tão tenso quanto ficar de recuperação em Matemática, quanto tiroteio no Zuzu Angel, quanto ser avisado de última hora de uma reunião com o chefe do chefe do seu chefe.
O primeiro eu te amo só falta doer. Quando você diz, pensa: "ufa, já foi!". Mas pior que o primeiro eu te amo, só mesmo o último.



Isa Blue

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Reflexo N'água

Ando meio parada com os textos e, consequentemente, com o blog por conta da falta de tempo. O mesmo mal que acaba acometendo todos os blogueiros em determinado momento da vida adulta. Por isso fiz o site, que é mais estável, não precisando de atualizações constantes.
No entanto, nos meus arquivos há bastante texto pendente de postagem. O problema é selecionar qual o texto que deve ser publicado no blog, qual o texto que eu vou postar no facebook, qual o texto que está no site e qual será publicado no próximo livro como "inédito". Sim, há um novo livro vindo cujo nome não será divulgado até sua data de lançamento. É um novo projeto que será lançado pela agbook, assim como o outro, e poderá ser adquirido em versão ebook também. Ele apresenta um formato bacana e tenho certeza que vocês vão gostar. Terá vários poemas inéditos, outros que já foram publicados aqui, mas apresentados sob uma forma diferente que dá junta à obra. O livro está na fase de finalização e logo vocês poderão conferir aqui.


Abaixo, é uma letra das muitas que fiz na adolescência. Eu gostava muito de abordar essa temática fictícia, mas a composição nem sempre ficava legal. Essa foi uma exceção e por isso merece seu cantinho no blog:


REFLEXO N'ÁGUA
(Isa Blue)


Existe em um mundo distante
Noutra galáxia, noutro Sistema Solar
Um planeta em que se vive assim
Respirando o mesmo tipo de ar
Baseado em tantas teorias
Creio que exista cada um de nós por lá
Avançando na tecnologia
talvez um dia possamos encontrar

Esse planeta estranho
Que promete descobertas vigorosas
pro bem da consciência
Esse planeta estranho
Que aflige qualquer um
pensando ter um clone ou talvez ser
Nesse planeta estranho
Será que as pessoas cometem os mesmos erros
ou há chance de acertar?
Nesse planeta estranho
Podia ser tudo igual
como um espelho intraestelar
Como um reflexo n'água!
Como um reflexo n'água!

Existe uma contradição, pra ser claro
que tudo que fizemos de errado
lá eles fazem o certo, isso é raro
Talvez um dia possamos ser achados!


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

NOVO SITE


Amigos, venham conhecer o meu novo site: http://isapunkblue.wix.com/isapunkblue

Lá você encontrará meus textos, vídeos, galeria de imagens, trabalhos, fotopoemas, poemas falados, etc.


Mas este blog continuará a receber conteúdo mensal ou quinzenal,
dependendo da disponibilidade.