sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Poema AutoBlueográfico





Ser Feliz de um jeito Blue

ser blue é ser incuravelmente sem
quando os pássaros azuis gritam as madrugadas
o vento corta as cortinas da sala
e um ventilador que gira gigante
sobre o quarto vazio
nas suas paredes escuras notar
a marca das águas passadas
ser blue é entender a solidão como uma companheira
é encontrar na noite uma feiticeira branca
e compartilhar delírios de sangue
entortar a rua pra caber nos seus olhos
já não ver o buraco do peito por sê-lo sigilosamente
é voltar os seus braços para quem precisa
e saber que desse abraço não tirará
nenhuma forma de vida
entornar suas mágoas no papel
e vê-las saírem voando como pombas
encontrar suas mágoas cagando numa esquina
em cima de um poste de luz
um jeito de ser o inverso e o inequívoco universo
em verso e incrível
as dúvidas são todas as minhas certezas
um seio sobre a mão e o improviso
que de um jeito ou do mesmo
nasceu pra ser sozinho
convivendo consigo apenas por mérito próprio
ser blue e ser feliz de modo
a ser míope e sem foco
viver de modo à moda ser modo
e o como ser logo
porque de azul é feito o vôo das gaivotas
de azul é o lento e simples e primaveris brisas
que é de soprar isas
pra refrescar seus risos



Isa Blue

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Teatro de Sombras



Eu conheci uma sombra. O nome dela era Leko. Eu dizia a ela que adorava o nome dela, que outros desprezavam. E descobri que podia conversar com as sombras e não apenas assisti-las em seu teatro. Eu tinha um teatro de sombras no meu quarto.
Quando beijei Leko pela primeira vez, foi um beijo técnico. Pudera, tinha um vidro nos separando. Leko disse que era feito de cristais muito frágeis de algas marinhas.
Quando toquei Leko pela primeira vez, foi por cima do vidro. Tinha a ponta dos dedos macia. Mas cada vez que o tocava por cima do vidro, era uma vez a menos que nos veríamos, pois ele foi feito, como todos, para se decompor.
Nós não podíamos ficar juntos porque eu não era uma sombra. Mas, para isso, existiam os sonhos.



Isa Blue.

descrição de um sonho com Teatro de Sombras.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Uma nota por um desabafo



Hoje eu resolvi postar uma coisa diferente. Não é um conto, não é uma crônica, menos ainda um poema. É um desabafo. Daqueles que periodicamente saem de mim como se tivesse tomado um litro de chá de boldo.



Uma Nota Por Um Desabafo

Não me entenda mal. Eu gosto de batata-frita e de cerveja. Eu gosto de sentar em uma roda de amigos. Eu só não posso é ouvir alguém dizer como eu tenho que ser ou me portar, por que tipo de gente eu devo me passar, é dividir meu tempo com alguém que diz que apoia a ditadura porque os jovens não têm limites que os pais não souberam dar e por isso quem deve dar é o governo.
Eu não posso dividir minha vida com alguém que acha que o dinheiro é tudo. Quando eu tenho certeza que o dinheiro não é nada, apenas a peça de um jogo que está na moda. Eu não vou abaixar a cabeça. Porque eu já abaixei muitas vezes e hoje eu não me conformo mais em ser apenas passiva e dizer "você está bêbada" ou apenas me livrar de alguém que não sabe o que diz. Porque eu já estou cansada de gente que não sabe o que diz. Eu não tenho que levar toda a verdade do mundo nos ombros. Só tenho 26 anos. Quero discutir com pessoas inteligentes e evoluídas e, sinto muito, não vou me prestar mais ao papel de ser "a amiguinha" ou "a filha da amiguinha" de uma geração ultrapassada que não aprendeu porra nenhuma da vida!!! A vida não é o Sistema. Seu caráter, sua ética não são o Sistema. Você vai sair daqui e levar O QUE consigo?
Hoje eu saí daquela mesa e levei uma dúvida. E cada um que saiu daquela mesa levou um tapa na cara. Porque eu caguei de verdade pra quem você é, chefe de quem, quanto você ganha. Eu caguei muito pro que você fez quando estava duro, pra quantos você deu o cu. E eu caguei principalmente vinte quilos pra sua ideia do que é importante.
Só porque você comprou vinte sandálias de pano só para não ter que lavar e as achou "descartáveis". Só porque você acha que as socialites vão se interessar se alguém resolver produzir aniversários de cachorros. Só porque você acha que o mundo vai durar pra sempre exatamente como você conhece. Só porque você acha que sabe mais do mundo do que qualquer pessoa à sua volta, porque o seu senso crítico ainda está parado nas lutas trabalhistas dos anos 70, as quais você só entrou de gaiato porque era só uma adolescente filha de militar e ai de você se se juntasse com aqueles rebeldes.
E eu somente deixo você achar que eu um dia vou me importar uma unha com o tempo que você gastou tentando me convencer que a vida é esse campo de guerra que você plantou. Às vezes é. Mas não tem que ser. Mas eu não digo que nunca vai ser ou pra sempre vai ser porque não sou hipócrita. Eu acredito na escolha. E não vai ser você nem ninguém que vai me dizer no que acreditar.
E ainda assim, estando com muita raiva, eu te disse tudo isso num tom sério e sereno, tanto quanto meu idealismo me permite, e vi as caras de riso das pessoas ao seu lado, e vi seu olhar mudar de direção. Mas eu tomo pra mim que quando seu olhar muda de direção, ele olha por um novo caminho. E quem sabe isso, um dia, irá te fazer, acidentalmente, enxergar melhor.Eu posso despertar a raiva de todas as pessoas ao seu redor. Eu posso ser jogada na zona de conflito para sempre. Mas eu não estou em guerra com o mundo. Eu estou apaixonada por ele.

Isa Blue

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Diálogos

Conversando com minha avó, na cozinha, aos seis anos de idade:
- Eu tenho imaginação fértil.

- Você sabe o que quer dizer "fértil"?
- Sei. Quer dizer que eu penso muita merda.















- Eu nunca quis me casar.
- Vai ver você nunca encontrou a pessoa certa.
- Na verdade, eu acho que eu que não sou a pessoa certa.














- Fofinha, fofinha...
Olho pro lado.
- Como é seu nome que eu esqueci?
- Isa.
.
- É porque eu sou péssimo em decorar nomes. Não consigo. Posso te chamar de Fofinha?

- Não.
- Posso te chamar do quê então?
- Isa.
























sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uma Vez Por Ano, Sempre No Outono...

Sabe aquela sensação de abrir o armário e desesperadamente constatar que "EU NÃO TENHO ROUPA!!!", mesmo que qualquer um seja capaz de ver centenas de peças nos mais variados estilos?? Hoje, quando abri minha pasta de poesia me senti assim "EU NÃO TENHO POEMA!!!". Andei reduzindo a produção porque as boas ideias andam me sacaneando, elas me acontecem quando estou quase dormindo, e o cansaço tem feito eu priorizar meu sono. Mas acabei encontrando um poema para suprir minhas exigências, praticamente saído do forno (ou do gelo):










Uma vez por ano
sempre no outono
o azul é triste
é um blues triste
com um pássaro
preso numa tuba
Uma vez por ano
sempre no outono
as folhas apodrecem
poemas inteiros
há o medo certeiro
e os mortos saem das tumbas
Uma vez por ano
sempre no outono
há um poço sem fundo
onde eu me perco
há um grito preso
e a noite é mais escura
Uma vez no outono
todos, todos os anos
deflagro passados
remonto mosaicos
e sempre sozinha
encontro a cura.


Isa Blue

domingo, 24 de junho de 2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

Fotopoemas

Dando continuidade aos FOTOPOEMAS, hoje publico mais três da minha coleção:
Para ver a imagem ampliada, clique sobre ela.











quarta-feira, 13 de junho de 2012

Fotopoemas

A partir de hoje estarei postando uma série de FOTOPOEMAS meus e de outros poetas feitos por mim em momentos de descontração apenas como meio de divulgação da arte pela imagem, sem nenhuma pretensão de ser um trabalho profissional.
Se você é poeta e quer ter seu poema nessa série, envie o texto para o e-mail: isa.blue@bol.com.br que farei uma seleção. Poemas longos podem sofrer recortes. Para visualizar as imagens em tamanho maior, clique sobre elas.
Bjos Blues,










terça-feira, 8 de maio de 2012

LANÇAMENTO - OS IMPUBLICÁVEIS DE ISA BLUE (e-book)



Hoje é um dia muito mais do que especial. Hoje está indo ao ar a minha primeira obra poética: OS IMPUBLICÁVEIS DE ISA BLUE. Filho de um processo de amadurecimento na poesia e na prosa, já apresenta a marca do meu trabalho: a densidade do texto associada a uma imagem urbana e contemporânea.
Quem conhece este blog ou conhece meu trabalho por contato pessoal, sabe que minha poesia não é distração. E assim é a receita deste livro: altas doses de humor-negro, sarcasmo, ironia em uma profunda crítica social. E também a leveza de um pássaro azul. E também a ressaca do dia seguinte. E também a loucura, e também o espanto. Mas sem nunca recorrer ao que já está batido.
Ferreira Gullar diz que é preciso olhar as coisas sempre com um primeiro olhar.
Te desafio a dar uma primeira olhada nesse livro e cada olhada posterior ainda será uma primeira, porque a poesia é feita dessa matéria mágica, que muda conforme a gente muda.




Você pode adquiri-lo pelo site abaixo:

(certifique-se de estar selecionando a opção e-book)

http://www.agbooks.com.br/book/128487--OS_IMPUBLICAVEIS_DE_ISA_BLUE


e deixe um comentário!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Revidando

Mais uma letra que eu comecei a fazer há longos anos e incrementei recentemente. Lembrei de uma letra do Leão Leibovich que diz "Você pra mim é um problema seu, é um problema seu, é um problema seu...". E nem posso dizer que foi inspirada nela porque comecei a fazer essa com uns 19 anos.





Revidar

Eu tenho que deixar de bobeira
Parar de levar tudo na brincadeira
Agora vou mudar meu instinto zen
E parar de coincidir com os bons costumes

Você disse que assim não dá pra ser
Você quer que eu mude ou vou me dar mal
Se acha que eu me importo com você
Vamos ver quem vai rir no final.

Não to nem aí, Não vou me transgredir
só pra não ferir as regras
se eu não revidar vou deixar-me usar
tenho que pegar as rédeas.

Minha cabeça já está cheia de besteiras
O que penso e não digo fica em mim
Eu estou pra explodir, estou lhe dizendo,
precavendo que eu nunca fui assim.

Não acredito mais nas suas mentiras
Não quero mais te ver a me cercar
Se você acha que eu ainda dou a mínima
Paga pra ver quem vai sobrar.

Não to nem aí, Não vou me transgredir
só pra não ferir as regras
se eu não revidar vou deixar-me usar
tenho que pegar as rédeas.

Você disse que assim não dá pra ser
Você quer que eu mude ou vou me dar mal
Se acha que eu me importo com você
Vamos ver quem vai rir no final.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

OURO DE TOLO

Ainda na onda musical (tem muita letra aqui gisuisss!!!), posto uma que comecei há longos dez anos (pelo menos) e terminei por esses dias.





Ouro de Tolo


Eu desejo que caia na sua cabeça
Uma tonelada de dólares
tijolos de tamanho e peso
nada além de tijolos


Eu desejo que sua vida seja
um poço sem fundo de desejos
E que gaste seus profundos pedidos
com um futuro negro


Você nunca soube viver
E gasta seu sempre tentando
Você nunca sabe o que tem
E perde seu tempo gastando


Eu desejo que caia na sua cabeça
um elefante de ouro
ouro de tamanho e peso
ouro de tolo


Você não tem saída
seu cérebro é carne moída
Afogue-se com suas moedas
seu dinheiro não me interessa


Você nunca soube viver
E gasta seu sempre tentando
Você nunca sabe o que tem
E perde seu tempo gastando



Isa Blue

sexta-feira, 23 de março de 2012

LIBERTAR (rap)

Bem, como eu estou num momento musical, vou postar outra letra, esse é um rap que fiz recentemente falando do amor livre.
Lembrando que "o amor é livre, mas não é grátis." (Isa Blue)

(A imagem é uma foto do beijaço GLBT que aconteceu em protesto durante a passagem do Papa em Barcelona.)




LIBERTAR


Antes de te conhecer
te disse, eu já te olhava
Bastou você corresponder
e tudo virou mágica
Sua história pra me refazer
numa cortina de fumaça
deixamos a fome crescer
e ser alimentada

Somos vício,
tudo que você quis desde o início
Somos quente,
e não há nada que pare a gente
Somos máquina,
alimentada à fumaça
Eu sei tudo que se passa
não precisa fazer graça
Ah, eu sou vacinada
muito bem esclarecida
Se tô aqui é pra agora
eu não faço fita
e tô inteira
mesmo que seja só de brincadeira
mando a real
pensar no amanhã é besteira
e me faz mal
porque o amanhã nunca se sabe
se a gente vai estar vivo
ou se vai ser muito tarde
eu só preciso saber que eu vivi a vida
e não morri antes do tempo
por não ser 'bem vista'
que se foda
eu quero mais é gozar em paz
e na verdade, quem se importa com o que você faz?
só quem não faz
é, e morre de desgosto
e nenhum de nós precisa de mais um encosto



Então vem,
não perde seu tempo com ninguém
que não te faça se sentir um rei
na selva de pedra
cidade vida caótica, amor é promessa
(2X)


Signo que bate consigo, lua com lua se paga
Estou vivendo um mar de rosas em plena estrada
Sendo levada por esse cio flutuante
Amizade é compromisso e o amor é uma constante
Somos feitos transparentes de pele e de brasa
sangue correndo, eu sinto a vida quando ela passa
A sensação tão intrigante e diferente de cara
Não é paixão, é muito bom pra ser medido em palavras

E não tem regra, não tem tabu, não tem promessa
A brincadeira é livre e entra quem interessa
Caça ou caçado, carrasco ou prisioneiro
quem vive sem coleira não precisa ter medo
Eu alço vôo e vejo tudo muito de cima
a cidade entediante e suas ruas vazias
gente que mente, que brinca, que não tem graça
eu vejo além das pessoas e ouço além das palavras
Gente indecente que não respeita nem a si mesmo
eu vou pensando em amor e nego pensa em dinheiro
e isso me livra e me liberta da humanidade
não tenho jaulas, algemas, ninguém me prende a verdades
Quando eu te vejo eu sinto aquilo tudo de cara
e eu vou pensando que a felicidade é mesmo de graça
E quanto mais se tem, mais se dá e mais se espalha
É a anarquia do sentimento sem amarras.


Então vem,
não perde seu tempo com ninguém
que não te faça se sentir um rei
na selva de pedra
cidade vida caótica, amor é promessa
(2X)




Isa Blue

terça-feira, 20 de março de 2012

O Choro do Sertão

Agora você pode compartilhar essa postagem também nas redes sociais. E também adicionei um contador de visitas ali ao lado. Devagarzinho vamos deixando o blog mais legal. Fique sempre à vontade para sugerir coisas novas. 

(pintura "Lavadeiras" de Carybé)




O poema de hoje tem uma história bem-sucedida. Eu tinha emprestado meu caderno para uma amiga copiar a matéria e ela ficou de me devolver outro dia. Então ela estava no ônibus indo para a escola quando sentou um senhor ao lado dela e  começaram a conversar sobre poesia. Como todos meus livros e cadernos tinham desenhos e poemas, ela mostrou meu poema para este senhor, que imediatamente pediu para gravá-lo. Era hobby dele declamar poemas e gravá-los em K7. Ela me passou o telefone dele, nos falamos, e ele acabou gravando este poema junto com outros dele e do pai dele e me deu uma cópia da fita. Claro que eu não faço a menor ideia de onde este material se encontra. Mas foi meu primeiro poema que teve algum reconhecimento além de parentes, amigos e professores. Preferi transferi-lo pra cá do mesmo jeito que o escrevi, aos 17 anos.



O CHORO DO SERTÃO

Lágrimas fechadas, zeladas com pesares
As águas amargas do choro dos humildes
Nas costas dos covardes, capitalistas, assassinos!
O caminho do pecado, o rastro de sangue
Das mágoas correndo pela vala de terra
Levando a cada gota a realidade e a dor.

Choro do povo sofrido, do corpo ferido, do pé no chão
Choro da fome que sobressai nos gritos agudos da escuridão
O massacre dos homens de terno contra os de chinelo
Levando a lembrança da comunidade no peito do bem-te-vi amarelo.

Cantando, o riacho desanda, assobia no resto de mata
A mata amarelo-amarronzada, a cor da pele do povo
Lavando a roupa suja e o corpo suado no riacho
O esforço pesado, o martelo, a pá, o sol forte, o calo na mão
O corpo curvado, o reumatismo sem trato, o tuberculoso
O trabalho escravo, semi-escravo, sempre alvo.

Choro dos inocentes, da parte miserável da população
Choro das mães desesperadas vendo seus filhos morrendo de desnutrição
O elo que liga os senhores de capital com o inferno da exploração
Tudo isso que o riacho leva lavando a vida lá no sertão.


Isa Blue
13-08-2003

domingo, 11 de março de 2012

Quero-Quero




Eu quero o que eu quero
O que eu não quero
Eu não TENHO QUE querer
Querer não tem
Desejo não é nosso refém.



Isa Blue

segunda-feira, 5 de março de 2012

Uma noite no metrô...

Eis uma música que fiz e que, por enquanto, só posso mostrar a letra (por falta de recursos de mídia, mas torçam!!!). Voltava do Corujão da Poesia, que aconteceu por um tempo em edição especial no Catete, quando esta letra veio se formando na minha cabeça. Numa questão existencial, talvez causada por excesso de drogas, me vi em outros corpos na volta pra casa e imaginei tantos destinos... Então nomeei essa letra de "A Noite dos Espelhos". Espelhos são objetos mágicos que podem mostrar muito mais além de você, é só pronunciar as palavras mágicas. Eu tenho o estranho costume de parar tudo que estou fazendo e puxar uma agenda da bolsa da Mary Poppins para não esquecer depois, mas atualmente também estou usando o bloco de notas do celular que é muito útil quando não há papel e caneta à mão, o que invariavelmente acontece... Já tentei gravar com o gravador de voz, porém perdi muitos arquivos assim, pois moro no Rio de Janeiro. Quando chegava em casa, não entendia NA-DA do que tinha gravado tamanho o barulho de TU-DO pelas ruas.








A NOITE DOS ESPELHOS


Vim vagando a esmo na cidade perdida
Meu reflexo na poça
becos sem saída
Eu não posso voltar
Não posso voltar...


Trêmulos receios da carne dolorida
Atravessando espelhos
sem sinais de vida
Não posso voltar
Eu não posso voltar...


Por onde vai o longe esquinas me corrompem
Sou o carro sem freio
céu sem horizonte  
Nada é fácil demais
Eu não posso voltar...



Gente que se esconde por todos os caminhos
Que me come com os olhos
Todos tão vazios                        
E cansados de amar
Não posso voltar...


Quais os meios que vão me levar
O vão do metrô
ou o azul do mar                             
Estilhaços do espelho
Mosaicos do mesmo...


Sou bicho, sou risco, sou vela sem pavio
Os fins não limitam seus meios e os meios dos caminhos
Mas sempre há uma trilha, um trilho, um corte e um trem
E em algum lugar estaremos mesmo sem


Sem braços, sem pernas, sem dor e sem amor
Os cascos de vidro levando o peso de um navio
onde a luz não alcança e não te faz nenhum bem
Os corpos sozinhos perdidos numa noite além


(- Não posso voltar, eu não posso voltar...) - 2x


  Noite de espelhos
  tão passageiros
  mas passageiros
  de um mesmo trem...




Isa Blue

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Lagoa Rodrigo de Freitas

um poema leve para ser levado pelo vento.





Tributo à Lagoa


As garças levantaram a manhã
na Lagoa Rodrigo de Freitas
Jogaram pro alto o lençol azul
e de sua boca saiu o Cristo
A capivara que virou lenda
os cisnes que mentiram aos olhos
eram pedalinhos estáticos
tomando banho de sol
O Parcão e o Jóquei
O Patins e a Cruzada
A Catacumba sempre morta
E o Cantagalo sempre morro
Espelhos à vista na Lagoa
misturados ao lodo e o esgoto
E as regatas no Flamengo
O assalto pelo medo
Contrastam com belas mansões
de artistas e milionários
missionários e figurões
onde não cabe o proletário
E é às margens da Lagoa
que os casais namoram
que os peixinhos choram
que os mendigos moram
Que encanta e entristece
todas as canções da bossa
Desde a árvore de natal flutuante
até o assobio do gari torturante
Todos têm as suas histórias,
quando se trata de dizê-las,
de bem-te-vi, se bem ouvi
da Lagoa Rodrigo de Freitas.




Isa Blue

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Onde vai dar?

(Se alguém souber o autor desta pintura, favor informar.)



O Caminho

Onde vai dar essa rua, senhor,
onde não vai carro,
onde não vai ônibus,
onde não vão moscas?
Onde desemboca essa via
onde não há tiros,
onde não há polícia
nem bandidos?
Senhor, por favor, me diga onde dá
essa avenida boa de andar
com o canto dos pássaros
e o farfalhar da música na copa das árvores...
é lá um bom lugar?
tem sorvetes coloridos?
tem bichinhos de pelúcia?
tem praia, sol e morro?
Essa rua de ladrilhos
termina onde? cruza trilhos?
é segura? tem mendigo?
Tem favela? tem abismo?
Não vejo pedras, senhor, onde dá?
Essa rua tem saída?
Essa via tem quebra-molas?
Onde dá esse caminho que eu sigo agora?

E o senhor me responde, com um sorriso:
“Esse caminho leva ao Paraíso!”
Ele próprio se oferece para minha escolta.
Eu me recuso. “Paraíso, é?”, dou meia-volta.



Isa Blue