segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Ainda que eu mude de estado, dimensão ou plano..."





Engraçado como essa "crise" vem se arrastando por diversos posts...Deu pra sentir a carga lá atrás. Desde aquele sonho que eu tive com o portal se abrindo, milhões de pessoas assistindo, e a lua se desfazendo... Houve um turbilhão na vida da gente desde a abertura do portal 9.9.9 Mas é aquele turbilhão necessário. É quando as coisas se quebram em nós que a gente sabe onde está a nossa fragilidade. Mas sei que no final tudo fica bem. E não há motivo para sofrimento. As coisas devem ser vividas intensamente SEMPRE.
Há um senso comum de fazer planos, mas a gente tem que botar na cabeça que nossos planos são coisas nossas. Não se pode fazer planos para si e para o mundo. O resto do mundo também tem planos, e cada um segue o seu caminho, ainda que se cruze com o nosso de vez em quando.
Hoje eu me lembrei da Oração de São Francisco e pela primeira vez entendi o trecho "e é morrendo que se vive para a vida eterna" sem achar que o homi tava doido. A vida eterna é a nossa vida, essa mesma terrena, que é composta por vários ciclos, várias mortes. Morrer não é perder, morrer é transformar. Perdoar é matar um elo. E digo mais, matar uma coisa é perdoar(-se) pelo que ela poderia ter sido e não foi.



A Nave Escolhida
(Elllas&Os Monstros - poema coletivo)

Pintar é mudar,
transformar
perpetuar feito pedra
que se quebra e se torna
alimento do tempo
corrente de fluxo contínuo
que leva ao castelo
amar é um elo, amarelo
O elo perdido do DNA
lacuna singela a ser preenchida
O Sol na janela da navel escolhida.



Missão
(Eduardo Tornaghi)

É preciso escrever!
E pintar!
Furiosamente!

Há muito papel no mundo.
Forçoso decorá-lo.
Afinal ele vai pro lixo.
Não pode se apresentar em branco.

A celulose dura muito tempo.
Carece vestir um vestígio
que preencha tamanha eternidade.

O grande baile dos sentidos.
O ilusionismo do "ou não", o fugidio
permanente impermanente.
O ponto de encontro
de todo papel com a gente.
Então: é festa! dançar!
cantar!
Furiosamente!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A ConsPiração dos Versos





a consPiração dos versos

A poesia não passou sozinha,
notou o velho trovador
e também notaram as garças;
A poesia estava atordoada
e os poetas viscerais notaram
e notaram os silêncios embutidos em palavras vagas:
A poesia estava grávida.
Ela se perpetuava e era certo
que a obra não estaria nunca completa,
engravidara de um poeta.
E se perguntou se era chegada a hora
dando à luz a milhões de versos diversos.
Ela se voltou aos seus filhos e disse:
- Vão conhecer o mundo
e me digam se lhes basta.
E seu condão deu-lhes asas.
Eles logo entenderam a mensagem
e começaram a se expandir e procriar entre si
pois o mundo era uma lástima,
não era maior que uma página.
E se você olhar direito
em cada canto tem um deles, pelo menos
Estão nas bocas dos poetas, nos goles de cerveja
nas mesas de bar, todos com uma certeza
todos aguardando uma porta para entrar
Estão na paisagem, no horizonte, no imaginário
estão que nem vírus, soltos pelo ar
E a poesia está tão orgulhosa de suas crias
elas sabem onde querem chegar.
Não tem poeta pra tanto verso.
Eles vão tirar o seu sono
e te ocorrer nas horas mais impróprias
vão te atropelar nas calçadas
e te afogar de palavras
Eles vão te invadir por todos os poros
não adianta se esconder, nem lavar as mãos
não adianta se fingir de louco
e tomar banho de roupa:
"Os versos estão à solta!"




Isa Blue

...E da crise nasceram crisálidas.

O problema dessas crises existênciais, ou seja lá o nome que têm, é que elas deixam bons poemas, mas impublicáveis! Que prisão um lindo poema impublicável! Mas isto é um blog e essa é a vantagem do blog, postar coisas experimentais e, definitivamente, coisas que não devem ser jogadas ao vento. Quantos textos já postei aqui com essas características! Por que não mais um?
Quero deixar claro, entretanto, que este texto foi escrito num momento de desespero e é um desabafo, e está sendo postado apenas pela carga poética. Jamais espero causar algum constrangimento para alguém.
Então, respira fundo E VIVA A POESIA!!!:








Entregue
(Isa Blue)


Mesmo que eu esteja contente
eu não estou inteira
apenas estou aqui
porque não tenho escolha
Não posso deixar de te ver
só porque você tem dúvidas
e eu tenho páginas
de vidas ávidas
Na sua frente
eu tenho que ser forte
mas quando abaixo a guarda
a lágrima me alarma
Não se engane, amor
estou aqui porque tenho esperanças
Mas a dor é muito grande
e tudo é muito difícil...
Ando beirando os precipícios
não tem um dia que não sinta
é o sorriso que cansa
e a força que mingua
Eu estou inquieta
mas não me entrego
e a certeza que trago
é a do puro amor
incondicional e cego.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Prazer, Espelho.

Não tem pergunta mais filhadaputa pra um poeta do que "Quem é você?". Cê quer o resumo ou as obras completas? Acho que o resumo é mais caro.






Olho e vejo. Muitas vezes, sinto. Quase nunca falo, porque não compreendo. Nem quero. Calar, não. Calar é querer dizer e não dizer, é ter as palavras e omitir. Eu não tenho. Pouca coisa tenho. Medo, não, às vezes, uma tristeza funda.
Ando olhando pra baixo porque meço minhas pegadas e reavalio tudo a todo instante. E eremito. Como se de nada e de lugar nenhum fizesse parte.
Falo comigo enquanto ando cismada, porque ninguém sabe conversar comigo feito eu. Nunca me darei uma resposta atravessada ou um olhar duvidoso. Gosto de falar das coisas que sei. O que não sei vira piada, pois em todo lugar cabe de ter bom-humor, até velório. Aliás, quando eu morrer, quero que tenha um sarau no meu velório. Eu, sendo a anfitriã, faço questão de que não haja nenhum minuto de silêncio porque o silêncio serve pra ouvir o que os ouvidos não podem. Na tristeza, o bom é gritar, não deixar calhar de o pensamento pensar. A morte é o eterno silêncio, dessa eu entendo muito bem, ando morrendo desde que nasci e acho até que já tenho esse cheiro de livro velho, capenga, de capa despregando do corpo.
Acho que minha cara já não faz parte deste corpo surrado e amarelo que ganhei. Acho, inclusive, que minha cara é uma capa muito sem propósito.
Não sou coisa comum, sou simples de se ver e se saber. Tem gente que nem sabe que sabe e me conhece melhor do que eu. É muito fácil olhar pra mim e ver por dentro, nem precisa arrancar meus olhos. Mas essa gente gosta de ficar imaginando entrelinhas. Eu gosto de entrelinhas no poema. Eu não sou um poema. Sou pessoa, assim, que de agora duvida se nasceu nesse mesmo planeta. Talvez eu seja um projeto de planta que anda e fala, mas não fala muito. Gosto de verde, de luz, de água, de primavera, de fazer fotossíntese... Aliás, gosto mais de fotossíntese do que de sexo. Sexo é uma coisa irrelevante. Não que desgoste, mas não tenho esse tesão de gente que tem fome. Amor eu gosto. Mais que tudo. Mas amor já tá feito, a gente só vem pra sentir. Sentir é o sentido da vida. Parece até óbvio demais. Mas o que é óbvio nem sempre está na cara, ou na capa. Aí eu sinto tudo e vou absorvendo aquela massa gelatinosa até virar outra coisa, porque é o sentimento que tem força pra mudar a gente. Pensamento não tem, não.
Eu até descobri, esses dias, que nem carecia de ser feliz. Felicidade é um estado de contentamento permanente, que é só uma ideologia, assim como outras idéias malucas que a gente inventa pra preencher esses espaços em branco da vida. Como a normalidade, por exemplo. Absurdos.
Aliás, o homem vive demais e não sabe pra quê. E, na verdade, não vive nada. A gente precisa tanto de tudo que é frágil que, no fim, os sentidos se perdem.
Gosto de tudo ao mesmo tempo e não gosto do tempo. Tempo é uma medida de perda. Não gosto de perder. Se fosse de brincadeira, tudo bem, mas nunca é.
Sou ansiosa, mesmo assim. Fico triste com pouco. Eu até achava que era dramática de sofrer por antecipação, mas na verdade eu tenho é um sexto sentido que me diz o que acontece antes de acontecer, pra não perder tempo, e eu nem sempre acredito nele e toda vez é tempo perdido.
Costumava gostar de mudanças, mas as coisas mudaram tanto que eu nem consigo mais.
Às vezes eu chovo também. Vou longe de ir virando máquina enferrujada. E eu sei que é depois da chuva que vem a terra fértil e o sol nasce mais quente, mas nunca acredito nisso na hora em que digo.
Dor de amor dura duas semanas e é uma das piores gripes que tem. Derruba mesmo. Mas aí chove, chove e, na data estipulada, essa nuvem seca e sai de cima da cabeça da gente. Amor que dói eu também não gosto. Mas quanto a isso, é absurdo falar. Amor não é questão de querer, mas de sentir. Dor de amor é pior que dor de parto, porque no parto a gente traz ao mundo e, no amor perdido, a gente mata, morre e ainda tem que se livrar dos indícios.
Eu sou uma pessoa que se sente viva e sabe que o tempo está virando à esquina. Quando calhar de olhar pra cara dele, que seja bem nos olhos e então aprender a adiantar e rebobinar a fita como manda a consciência.
Nem sempre eu tenho respostas, nem dias pra ficar procurando na bagunça do meu quarto. Quando acontece esse incidente, eu desligo, desplugo e reinicio. Dar boot é muito bom, mas nem sempre a gente consegue. Quando não sei o caminho, pego os caminhos do meio.
Às vezes procuro respostas nos outros, mas ultimamente não tenho feito isso porque os outros são os outros. Quê poderão saber eles das minhas respostas mais que eu? Passamos algumas vezes por elas e preferimos olhar pro outro lado. Tampouco me sinto no direito de dar respostas a alguém, ainda que isso me prejudique, pois seria antecipar algo que alguém não está pronto pra ouvir, aliás, nem eu pra falar.
Já falei das palavras. Tem hora que vêm as palavras mas não vem o contexto no qual dizê-las. Aí também não é calar, é esperar pelo momento. O momento, esse cara, sempre deixa a gente saber que está chegando, mas quando chega mesmo, a gente só vai perceber depois que passou.
Gosto de andar de ônibus, ver pessoas se olhando, ver e ser vista por um estranho que nunca mais. Desapegar pra não perder um ponto. A vida inteira são escolhas e atitudes de quando puxar a cigarra. Desapego é preciso e a gente gosta porque, no fundo, ninguém quer ficar sofrendo com despedidas. Se eu pudesse, ficava feliz, dava festa, soltava rojão...mas "despedir dá febre", como disse Diadorim. Tem que desapegar, soprar pra soltar o nó e pensar que esse suor frio é fome, e depois não pensar mais nada.
Meus passos fazem o caminho que me leva pelo mundo. Às vezes piso flores, às vezes, esterco. Não me preocupo em limpar os pés antes de entrar, porque, mesmo que eu quisesse, meu caminho percorrido entranhava neles e diria: "meu amigo, livre-se de todos os souveniers da viagem, mas não esqueça a bagagem no aeroporto."
Vou tentando pescar peixes voadores, torcendo pelo mocinho e pelo bandido, pra dar empate, procurando um lugar comum que me aceite, chovendo, pintando dragões com vermelho e pedrinhas de amarelo, matando quimeras, guardando passos, amando outros e morrendo de tempo.

Quem é Você? Muito prazer, Espelho.




Isa Blue

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

As Flores Pisadas




Eu não quero mais correr
ainda estou no mesmo lugar
e te perdi de vista
contigo os meus portais pessoais
e as chaves pisadas pelo chão
nos meus pés as pedras quebradas
perpetuadas multiplicadas ao infinito
sangue e perfume
o perfume das flores amassadas
que não se cansam de ser belas
e sinceras ainda que não haja respostas
No silêncio das pedras, a terra espera
o que me falta de força
lhe sobra de fértil
para trazer as flores de volta.



Isa Blue.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O amor abre portas e portais






"Eu quis voar
para escapar do perigo
enquanto abria as janelas
o bandido tentava
matar meus amigos.
Inocentes foram mortos,
muitos ficaram feridos
mas eu não podia levar todos comigo."









No céu um portal se abriu

um pentagrama devidamente circulado

pela luz da lua lilás

e atrás,

ela se desfazia em pedaços



Num lugar onde a história

recomeçava

e os contos eram meras monossílabas



Todos sabíamos da teoria

e estávamos todos despreparados.



(Isa Blue)

Quis Falar... (Isa Blue)






Quis falar, mas ainda não tinha as palavras. Pensava que não valia à pena dizer o que sentia, pensava que era forte o bastante para agüentar, que um dia ele mudava e passava a prestar mais atenção nela.
Percebeu que se calou muitas vezes, passando por cima de si mesma para não magoar o parceiro, pensando que seus princípios eram, de fato, apenas caprichos. Não entendeu, de imediato, que isso era o que ele queria que ela pensasse.
Ela ainda acreditava nele, que um dia se casariam, que criariam seus filhos e morariam numa casa com quintal e cachorro...Ou talvez, acreditasse apenas nesse sonho e estivesse cega para tudo ao seu redor, inclusive para ver quem era a pessoa ao seu lado.
Ela achava que sabia muito sobre a vida e sobre o amor, achava que já tinha sofrido muitas desilusões. Talvez fosse porque ela só tivesse vivido ilusões, miragens do que ela achava ser o amor. - Um reflexo muitas vezes pode parecer a imagem real, mas é só uma projeção. E o que eles chamavam de ‘amor’, se confundia mais com a sombra e a solidão. - Ela tinha medo de falar, porque as palavras que ela conhecia o afastaria de vez da sua vida, pois eram palavras contaminadas de mágoas e rancor por tantos anos em silêncio.
Mas quando ele se afastou, ela percebeu que podia viver sem ele. E que, pra bem dizer da verdade, vivia até melhor. E o medo que ela sentia era somente do desconhecido, do não saber de amanhã, não era medo dele, nem por ele. Nenhum cuidado foi tomado diante do mito do amor que eles, um dia, sentiram.
Ele já não a amava mais, mas não quis aceitar que ela tivesse tomado a iniciativa de terminar definitivamente, se por tantas vezes ele terminou e voltou depois por insistência dela. Essa era a diferença: ela assumira a palavra que ele tantas vezes tinha desperdiçado.
E ela se sentiu tão bem quando se viu livre daquele peso enorme que, no dia em que terminaram, ela pôde, finalmente, conversar com ele, abertamente, pela primeira vez. E quando as palavras vieram, foram todas de uma vez, embriagadas de uma mágica única que é poder falar sem sentir culpa.

Depois dele, ela começou a trabalhar com a palavra e viraram amigas inseparáveis.

Mãos de tesouros




Por muito tempo deixei as coisas práticas em segundo plano, achando que se já sabia a teoria e sabia como devia ser, então não precisava praticar. Erro. 10 pontos a menos na carteira.
- Às vezes não me reconheço quando olho no espelho. É necessário que alguém me olhe e diga o que vê. E não é todo mundo que aceita fazer isso de graça, assim sem cobrar nada. -
Mas chega um determinado momento que as teorias se limitam. É preciso viver além de letras e vozes.
A poesia é o meu recreio, é onde consigo viver e escrever sobre o que sinto, e não falar apenas sobre a mudança de tempo ou o trânsito intenso. Deve ser por isso que tento levar a poesia e disseminar pelo mundo real. Para unir as pessoas que sentem e não apenas passam.
Muitas pessoas já passaram por mim e disseram que poesia não leva a nada. A essas, meus mais profundos pêsames, elas já não sentem, pode enterrar.
A poesia luta para achar espaço entre as artes mais rentáveis. Quem consegue sobreviver apenas disso, ou deu muita sorte ou foi muito esperto. Mesmo assim eu insisto. Porque não sei de que outro modo poderia ser. Não é mais uma escolha, é uma condição.
Por que escrevo? Escrevo porque me sinto viva. Vai perguntar pro passarinho porque ele tem asas, vai perguntar por que a chuva é molhada, pergunta pras folhas amarelas por que elas se suicidam...Com licença de Paulo Leminski, "Escrevo e pronto. Escrevo porque preciso. Preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso!"


Motivo
(Cecília Meirelles)

Eu canto porque o instante existe
E minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste;
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento
Atravesso noites e dias
Ao vento.

Se desmorono ou edifico
Se permaneço ou me desfaço
Não sei, não sei
Não sei se fico ou passo.

Sei que canto e a canção é tudo
Tem sangue eterno e asa ritmada
E um dia, sei que estarei mudo
Mais nada.



Sobre a Criação
(Isa Blue)

Não é meu
Não é meu o poema que escrevo
plagiei a idéia do inconsciente humano
roubei a criação de deus
para divinar o poeta, confesso
o poeta, e não o poema.
Mas vergonha maior é Ter feito eterno
todos os poemas
e etéreos todos os poetas
para que nunca se encontrem neste plano
Não é meu
Não é meu o poema
eu nem escrevo poemas
Eu escrevo o desejo de encontrar o poema
e dilacerá-lo pela minha saudade
das coisas que eu nunca vi
escondidas nas suas linhas.
Não é meu
Não é meu o poema
agora está feito
é do mundo, de quem o lê
dê os direitos autorais ao poema
é o poema quem escreve o poeta
minha criação já estava criada antes de mim
eu só passei para vê-la
e em vez de vê-la,
senti, sentei e escrevi.


O poeta.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Renascendo das Cinzas

A preguiça fugiu de mim. Acho que o dia de hoje me fez tão bem que me deu até vontade de arrumar o quarto. Como eu poderia arrumar meu quarto se minha vida estava dando nó?
A última semana foi mesmo de morte e acho que está tudo renascendo mais florido.
Há coisas para repensar, vasos para consertar, pegadas para limpar, muitos caminhos terão de ser fechados, mas as placas de sinalização estão bem grandes e claras, de modo que nem a minha miopia poderia deixar de perceber.
Já esvaziei mais uma caixa, já cobri minha cama e troquei os lençóis, guardei bons passados no fundo do armário, juntei papéis inúteis e arrumei um cantinho na estante para a poesia crescer. Amanhã eu guardo as roupas e encho algumas prateleiras. Pintar minha parede seria uma boa desculpa para não sair de casa. "Pintar é mudar, transformar(...)" E minha vontade de sair é nula. É preciso dedicar algum tempo ao renascimento.
Here comes the sun, tchurutchuru...






Como uma Fênix
(Isa Blue)

eu queria morrer em teus braços
chamando teu nome
um sussurro surdo um afago
e eu morreria feliz em teus braços

eu queria morrer em teus braços
ouvindo-te pedir que não
um pingo de dúvida ou uma exclamação
e eu morreria em paz em teus braços

eu queria morrer em teus braços
fitando teus olhos lassos
talvez um pouco de desespero
e eu morreria inteira em teus braços

eu queria morrer em teus braços
contigo me cobrindo de atenção
o teu toque suave ou destemperado
e eu renasceria em teus braços




GUARDAR
(Antônio Cícero)

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.