sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

...condicionada a cair na teia, a lembrança é devorada por um aracnodesejo recriado do que já não é nem desejo...




Só me faltava perceber em você o sumiço das coisas que eu admirava.
Encarar o fato de que a força não era de nada.
E lá se foram as últimas gotas, se esvaziava a última garrafa. Em mim, tudo de vidro se quebrava.
E perceber que eu não fui a causa, mas a única salvação para uma alma cansada.
Que foram em vão todas as noites mal-dormidas e as palavras ditas por não-ditas. Malditas no silêncio das estrelas.
Mas se isso se conflitar com remorso ou raiva, não me subestime. É que as horas já se confundiram no fundo de nossas razões.
Eu não deixo que o antigo sonho vire pesadelo ao teu lado, porque não durmo mais nos teus braços.
Será que eu continuo tentando arrumar um jeito de deixar você passar por mim como a luz, mas como tirar de trás de mim esta sombra, como deixar o ciclo infinito de todos os dias ser infinito sem sentir o vazio que sobra.
Isso não é uma pergunta e, de longe, não cabe numa resposta.
Aonde vão levar meus devaneios quando eu der as costas? Eu temo pela poesia que precisa ir embora.

E se já não era isso que eu vim dizer, me perdoe, mas quando começo, esse vendaval me invade e viola minha sanidade.
Mas eu não procuro mais as suas respostas, hoje estou admirada com as minhas convicções, de gente que já não sente nada e mente pelo bem das composições. É um sentido de procurar abrigo numa memória amarelada.
E sem qualquer sentido, finjo que já não sinto aquilo que minto. Amar o ser que já não é amado. Amar a lembrança do amor no ser que um dia foi.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Lançamento do livro 'O Diário do Camaleão', de Marcelo Mourão

























A SAGUMANA NO SOLO DE GAIA
(Marcelo Mourão)


o bichumano subiu no telhado.
tem medo de cobra e mordida de rato,
da ave agourenta que no céu passa
e até de si mesmo: réu e comparsa,
vítimalgoz de sua própria desgraça.

o cegumano rasgou seus contratos.
não enxerga leis, regras, cláusulas.
fez sua fome não caber mais no prato.
misturou deus e darwin numa lógica crápula:
o paraíso é dos belos e fortes de cada raça.

o ser-engano construiu seu reinado.
inventou a guerra, sujou mares e serras,
prostituiu todos os seus bens sagrados.
seu destino é devorar pedras e pérolas,
sem notar a diferença que há entre elas.



Marcelo Mourão está lançando HOJE (quarta-feira) seu livro 'O Diário do Camaleão', no sarau POLEM, das 19h às 22h. (Quiosque Estrela de Luz, em frente ao Restaurante La Fiorentina, Praia do Leme - Rio de Janeiro.) Participação do grupo Elllas&Os Monstros, e microfone aberto a quem se dispor.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Morrer, mas não matar.



Seria cruel ou seria verdade pensar que o ser-humano não se importa com os seres que não podem se comunicar claramente? Por isso matam plantas e insetos e peixes e qualquer outro ser que não pareça ter consciência sobre si e sobre o mundo. Sem pensar que as plantas, insetos e peixes também brigam pela sua sobrevivência e isso não seria ter consciência? Ter instinto é estar vivo.
Pasmo quando vejo essa nova onda de apoio à eutanásia, como se matar fosse comum e a vida fosse algo que pudesse ser definido por palavras e gestos, e uma pessoa que não tivesse capacidade de se mover ou se comunicar, fosse uma pessoa morta. A incapacidade de se mover ou se comunicar não quer dizer que a pessoa não pense ou não sinta. Que crueldade uma mãe assistir o filho a que deu a vida, pedir ao médico para desligar os aparelhos, sem poder dizer que ela ainda está ali, sem conseguir optar por continuar viva.
Creio que todos nós temos um processo evolutivo. E mesmo quando uma pessoa está em coma, com poucas esperanças clínicas de voltar, ninguém tem o direito de cortar este grilhão, pois se seu cérebro ainda funciona, ela está passando pela sua jornada evolutiva, talvez em outro plano.
Desligar as máquinas é deixar o paciente morrer de fome, de inanição, de falta de humanidade.
Não julgo que adotou estes métodos no passado, pois o passado não está apto a ser mudado mas, ao se deparar com esta situação no futuro, pense duas vezes, pense três mil vezes, antes de desligar os aparelhos do seu pai, sua mãe ou seu filho. O que lhe dá o direito de matar alguém que tantas vezes se privou do que queria só para estar ao seu lado, sem pedir nada em troca? Sofrer é parte da vida, sentir dor é parte da vida. Não mate o ser humano que sofre, estenda a sua mão.
Nenhuma morte é bonita. A morte de uma floresta, a morte de um homem ou a morte de um sentimento. Não existem fênixes que renascem tão logo morrem, leva tempo para renascer algo bom de suas cinzas. A morte é uma dor, nunca será diferente. Mas nunca inventaram um veneno definitivo contra a morte, por um bom motivo. Morrer é o fechamento de um ciclo. Ciclos incompletos são ciclos quebrados, uma vida quebrada não pode ser colada novamente.

sábado, 28 de novembro de 2009

Vídeos Caseiros:

Dos poemas de Isa Blue no You Tube.



Destinação:
http://www.youtube.com/watch?v=30dJ7pKjwBU

Visualização:
http://www.youtube.com/watch?v=gAgKecd-L4o

Liberdade ("Borboletas..."):
http://www.youtube.com/watch?v=wguY7gEF3ww

Sociedade da Paranóia ("Gripe suína..."):
http://www.youtube.com/watch?v=ANhhZcYruNM

Química:
http://www.youtube.com/watch?v=DV0oyOWmvgk




Ointis!

Passagem






Apesar de ter estado pelo avesso
a parte de dentro, exposta
a parte de fora, imposta
Ter criado máscaras
para não ver que rolaram lágrimas
Eu desvirei minha cara
e consegui te olhar nos olhos sem doer
e consegui virar o rosto sem esconder
por conseguinte não te seguir
e ver na estrada apenas meus pés
a bagagem que trouxe
companheiros fiéis
e os passos trôpegos e tristes
se fizeram felizes
Eu sobrevivi à tua imagem
dei passagem ao tempo
e minhas mãos amarradas em sentimentos
que eu ainda alimentava
se libertaram e levaram as palavras
e lavaram minha alma pesada
Eu pude abrir meus olhos
e os seus olhos brilhavam
Sei que ali nascia alguma coisa doce
que distraída me abordava
um anjo de asas serenas que pousa
bem devagar nesse cruzamento
e cuspo na cara da solidão
vejo meus pés fixos no chão
e engulo meu passado
Nada em mim me sobra
eu não trago mais silêncios
Vim pintando essas pedras
que cantam pisadas
Eu acredito no amor e suas formas
e creio na transformação
no movimento
e na invencibilidade
do amor a favor das respostas
às aflições da alma
E chegou o momento
em que olhei pra trás
vi você e meus castelos ruídos
não senti mais nada
nem tristeza nem revolta
apenas olhei de longe
e dei as costas.


Isa Blue.

sábado, 21 de novembro de 2009

do que eu não tenho



Eu não guardo as palavras pra te ferir, sobraram palavras pra mim, que me serviram para jogar fora, impregnando estas paredes de silêncios.
E não guardo seus silêncios como punhal. Eu olhei as rosas no quintal, não quis arrancá-las pra te dar, eles eram mais belas longe de mim.
Não quis renascer das suas cinzas, nem quis fugir dos nossos limites, árvores nunca abraçaram ninguém. Não quis ir contra sua vontade, nem me fiz metade destruída, apenas fui o que sou, simples, eterna, contida.
Nos meus olhos não tem desejos de manhã nem frutas maduras de gosto afrodisíaco. Só tenho essa cara amarela e sem graça. Esse queixo muito grande, essas mãos esguias e um jeito de quem anda pra nunca chegar.
Não tenho em mim os mesmos sonhos que compartilhei em total ingenuidade. Não tenho em mim o amor que alimentei como fera selvagem. E é no espaço dele que crescem essas palavras, sementes do meu útero desvirginado.
Eu tenho uma tristeza profunda de quem olha pra baixo, muito embora pra dentro, e uma miopia que me deixa a desejar.
Lá fora eu tenho a coragem encouraçada nos meus tênis. E o mundo ancorado no meu coração. Não há laços que me parem nem braços que me amparem. Mas há mãos que me levantem.
Não tenho sorrisos que me sirvam; faço um novo. Não tenho estrelas cadentes; só ascendentes. Não tenho sentimentos que façam sentido; só fazem saudade.
Às vezes eu vejo folhas e penso ser borboletas, às vezes eu me vejo e penso ser amanhã. Nada me constrói mais do que as perdas.
Esses vazios me preenchem de esperança.


Isa Blue.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Só mais uma em prosa...




Será que conto? Ou será mais um ponto se fingir que sou outra coisa?



Se eu disser que sou forte e quero me divertir, beijar outras bocas, ver com outros olhos...Se eu disser que já esqueci e nem lembro mais do que vivi...Que mentira! Não posso colidir sua loucura na minha. Eu só quero saber como ser inteira outra vez, já que tudo que fiz foi me anular. Mas não quero sentir rejeição como da última vez, não posso me perdoar.


Às vezes eu sinto em você uma pitada de maldade, vontade de me atingir sem pensar. (Talvez seja sua forma de sofrer ou, quem sabe, sua forma de amar) Mas eu não quero mais morrer. E eu não posso me perdoar.


Peço perdão mas já não importa, quantas linhas tortas até chegar aqui? Eu não tive coragem de te afastar de mim. Por mais que me arranhe a solidão, estar sempre só, a noite invade meu peito e os uivos que sigo ao redor são de um passado remoto. Não há mais nada aqui. O vazio me divide. Eu peço reforços.


Eu preciso dizer que dói, caso você não tenha percebido; E talvez isso alivie o desespero de estar perdido. O meu coração pulsa procurando o seu. (As palavras querem sair, baby, mas a noite é muito grande e a lua é tão bonita, eu me recuso a distrair a obra do Artista.) E não posso mais me perdoar. Dentro dos seus olhos tem silêncio e cansaço. Não há nada que eu pense que mereça o fardo. Talvez eu não seja mesmo pra você. Mas o que é que eu faço pra tentar te esquecer?
 
 
 
Isa Blue.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Machado de Assis






Guarda estes versos que escrevi chorando
Como um alívio à minha soledade,
Como um dever de meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.

 Único em meio das paixões vulgares,
Fui a teus pés queimar minh'alma ansiosa,
Como se queima o óleo ante os altares;
Tive a paixão indômita e fogosa,
Única em meio das paixões vulgares.


Cheio de amor, vazio de esperança,
Dei para ti os meus primeiros passos;
Minha ilusão fez-me, talvez, criança;
E pretendi dormir aos teus abraços,
Cheio de amor, vazio de esperança.


Refugiado à sombra do mistério,
Pude cantar meu hino doloroso;
E o mundo ouviu o som doce ou funéreo
Sem conhecer o coração ansioso,
Refugiado à sombra do mistério,


Mas eu que posso contra a sorte esquiva?
Vejo que em teus olhares de princesa
Transluz uma alma ardente e compassiva,
Capaz de reanimar minha incerteza;
Mas eu que posso contra a sorte esquiva?


Como um réu indefeso e abandonado,
Fatalidade, curvo-me ao teu gesto;
E se a perseguição me tem cansado,
Embora, escutarei o teu aresto,
Como um réu indefeso e abandonado.


Embora fujas aos meus olhos tristes,
Minh'alma irá saudosa, enamorada,
Acercar-se de ti lá onde existes;
Ouvirás minha lira apaixonada,
Embora fujas aos meus olhos tristes.


Talvez um dia meu amor se extinga,
Como fogo de Vesta mal cuidado,
Que sem o zelo da vestal não vinga;
Na ausência e no silêncio condenado,
Talvez um dia meu amor se extinga.


Então não busques reavivar a chama,
Evoca apenas a lembrança casta
Do fundo amor daquele que não ama;
Esta consolação apenas basta;
Então não busques reavivar a chama.


Guarda estes versos que escrevi chorando,
Como um alívio à minha soledade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um eco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.
 
 
(Machado de Assis - do livro "Crisálidas")
 
 
 
 
meu Machado preferido.

domingo, 8 de novembro de 2009

Na Gaiola dos Sentidos



A solidão rói meus olhos enquanto o relógio entorta. Não há hora mais longa que a espera. À noite o apito é mais agudo, é agulha furando o ar. O pesadelo batendo à porta, a ilusão de descansar, ainda que eu fosse só corpo. E o pensamento arde em meu rosto; o frio, a chuva e o desconsolo. Não quero deixar o sono ser mais forte que minha dor, preciso provar pro mundo que não terei mais sonhos quando você se for.
Mas eu caio no sono e você está igual, eu posso dizer que não foi um sonho normal:
Vejo os retalhos dos meus sonhos que vivenciei e creio que todos terminaram antes do fim. Qual foi a estrada que cortou caminho por mim? Quantos passos a estrada levou distante do espaço de meus horizontes, e está tudo claro agora. Há silêncios nos pássaros espaçados que perderam suas margens. Voaram procurando a liberdade e descobriram que a liberdade não tem vantagens.
Eu gostaria de encontrar o que me foi arrancado. Dentro da calma, um coração mutilado que se quebra e se recompõe só pra quebrar outra vez, em loop, como um disco arranhado.
Eu poderia ser um pássaro engaiolado, se me pedisse, e minhas grades lúdicas seriam como marquizes. Eu adoraria viajar debaixo de suas asas. E sua boca seria a única que bicaria com meu olhos de reserva, você me basta. Mas eu não sei se você saberia cuidar de um sentimento deste tipo. Ou se agora eu me contento só com o que tenho - meu amor, somente meu, o canto do pássaro com grades na tristeza - ou se vôo pra natureza. Mas enquanto minhas asas ainda estão dormentes e feridas, eu fico aqui nessa janela chamada vida, só vigiando teus gestos e me esquivando das pedras, desejando estar presa por um sentimento real, ou esquecer deste pesadelo de árvores e vento, de me prender à liberdade e levar você no pensamento.


Isa Blue

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A Noite de Dentro




Ela andava pela casa tentando preencher os vazios portáteis e se sentia em sobra, como não pertencesse àquele espaço, como os espaços fossem poços, como aquela hora fosse eternidade. Ela não sabia.
Ela sabia que não sabia. Mas no seu olhar sustentava a certeza que queria. Não porque preferia, mas porque precisava. E proferia seu mantra cármico "Por quê? Porquê?", e se cobria do manto cósmico. Se olhava pro céu, nada via que lhe desse respostas.
Assim passava as madrugadas distantes de tudo que era racional, pois não há nada mais racional que o desamor e o desapego, tudo que ela rejeitava. Pois quem nasce no fogo só se queima com o frio, que deixava seu coração em caldas e derretia sua alma semi-nova. Por quantas vezes dormiu o gosto daquele corpo em sua boca? Por quantas vezes sentiu aquele sangue em seu corpo? Por tantas vezes sorriu nem sabe como, mas o riso doeu seus dentes morderam um pedaço do que tinha de melhor: a entrega. Ela olhava pros lados e tudo lembrava a da sua alegria de viver, não parecia tão distante. A mão se abriu, o braço se
estendeu para tocá-la. O peso do ar no limite de seus dedos. O preço da vida é muito alto para amar mais de uma vez.
Mas quando ela toca nos primeiros fios da aurora, Hemera lhe concede o passe pro sono, não se importando com o que tiver pra doer. Talvez pela fraqueza de não poder ver o dia nascer sozinha, pela lembrança dos dias nascidos nos olhos de quem não está. Seja como flor, ela se deita em seu canteiro e adormece bela ao canto dos passarinhos sonolentos e toda primavera pousa naquele outono cinza, cobrindo de cheiros, raízes e colibris aquele corpo cansado de se sentir vivo. A estação onde tudo renasce e desaflora. E ela, dormindo em sono profundo, até parece mais leve, como se o vento pudesse soprar. A
tranqüilidade inquietante agora procura outro luar.
Hoje as pedras são amarelas, os rios cantam e árvores estão em festa. Nela, pousa um ar divertido entre um suspiro invertido, como se soubesse que é hora de deixar a vida lá fora lhe provar que ainda pode sorrir, renascendo das flores pisadas. E florir.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Poemas

Não há mais nada no seu olhar
nenhuma dor
nenhuma dúvida
nem aquela cor de manhã
que eu via todos os dias.
Seus olhos fecharam os meus
não há no mundo nenhum deus
que alivie meu peito.
O amor que o abismo engoliu
que fugiu e ninguém viu.
Não há mais nada no seu olhar
que me diga quem é você.
Eu tento virar o rosto
eu tenho que esquecer
resgatar meu corpo.
Só o sono alivia minha dor.
A tristeza de te perder
e não ter sido mais que engano
muda todos meus planos
causa ciúme, raiva e rancor.
Não há mais nada no teu olhar
que me provoque
que me instigue
você esvaziou seu olhar salgado
com as lágrimas do luto
e eu perdoei meus pecados
ainda no escuro.
Mas não fazia mais sentido
já tínhamos falado tudo
que devíamos falar
e nada mais restava no nosso olhar.


Isa Blue

inspirado na música Traição, de Ana Carolina
trecho: "Meus olhos fecharam nos seus / sempre haverá uma nova paixão / Somos tudo o que vamos perder / Amores demais que vêm e vão / Tantas canções pra esquecer".


TÃO DISTANTE
(Isa Blue)

Estar com você
mesmo que em pensamento
é matar um dragão por noite.
Não quero mais essas nuvens
rodeando minha cabeça
fantasmas arrastando correntes
pelos corredores do castelo
Toda esperança é burra
a distância nos anula
você já se acostumou
à minha ausência
Eu que ainda não me acostumei
a ficar dentro de mim
por tanto tempo
...pontilhando reticências...
Sem saber se limito meu espaço
ou afago teus cabelos
se prendo minhas mãos
ou passeio em teu rosto
se o beijo é permitido
ou se de bocas estamos confusos
eu que aqui fico perdido
nesse triângulo-das-bermudas
obtuso pela distância
sem coragem de perguntar
achando que está tudo resolvido
pois já ouvi o que devia ser dito
ainda que não faça sentido
mas já fazem semanas...



"Não tem um dia que eu não sinta um frio no coração.
Esse medo de cair de quem anda muito distante do chão." (Isa Blue)


"O amor perfeito é a mais bela das frustrações, pois está acima do que se pode exprimir." (Charles Chaplin)

Mortos-Vivos

Ando me arriscando mais na prosa, quero trabalhar isso, é um jeito de dizer coisas mais fiéis ao que elas realmente são. Estou precisando ser um pouco mais transparente para expelir alguns vícios poéticos, de dizer muito e o muito passar a ser outra coisa para ter um fechamento ou uma rima ou um ritmo. E, poda por poda(phoda), a gente acaba lapidando nossas primeiras importâncias.


Faço perguntas estranhas a estranhos sem rosto, e nenhuma resposta me surpreende. E toda essa singularidade me limita. Em quê ouvidos vou dispersar os vivos, revisitar os quase-mortos com as mãos dos seus assassinos? Onde vou encontrar alento se ela olha pro céu e o céu não me vendo? As respostas estão ao lado e não cheiram bem. Se eu chover, você vai ficar ensopado.
Onde andam as estrelas de pedidos, onde é o céu dos perdidos? Ontei saí costurando com espinhos de uma flor, já há muito sêca. Sêca como o sertão. Passa inverno, outono, primavera, verão e ela murcha. Nada vai salvar a flor pisada, nem água, nem sol, nem adubo, a raiz está morta como uma porta fechada.
Ando saudando os mortos, vivos nas lembranças tanto quanto preciso. Como deixar de pensar no que eu ainda sinto? Por mais que o mundo gire pro outro lado, meu pensamento embriagado, desenfreado, anda na contra-mão, avança o sinal, corta as placas de perigo e bate no muro de tijolos. Assassinos tijolos confortam meu caminho tortuoso. Mataram o que era fácil e simples.
Eu me sinto meio morto em meio às decisões. Quê poder tenho eu pra contradizer? Minha voz? Eu grito e você não me vê. Tô aqui do seu lado, o céu ainda está muito mais longe, pra onde vão seus olhos depois que eu fechar os meus? Não há deus que me ofereça conforto. A morte me fez ateu. Seria glorioso ser só um corpo. Ser só meu. Só eu. Alma? Amor? Sentidos? Adeus.


Isa Blue.



"Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser no tempo em que foi lógico."
(Paulo Leminski)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Folha



Eu me sinto virgem e não tenho pressa. Meu sorriso está inocente e infantil de novo, não trago as maldades de uma alma calejada. Não trago nada que me faça calar. Me sinto um papel colorido e me sento ao vento para que ele me leve em rodamoinho pelos quatro cantos dos passarinhos. Não penso em voltar, mas se vier a tempestade e me rasgar em pedaços, eu sei que é preciso ter uma bússola para voltar ao ponto-morto, pois ainda estou viva, e dessa vida, só o tempo me leva.
Ainda encontrarei muitas pessoas que não têm história na minha história e caminharão em minha estrada, ainda que não seja sua rota, ou que usem minhas asas. Essas pessoas vão passar por mim, como outras já passaram. Nenhuma pedra fica no final, todas as pedras rolam.
Me assusta pensar, descobrir como vai ser o final, ou o final do quê. Saber que já vou, que não volto atrás, que deixarei meus passos onde não estarei mais...isso, quem sabe, me faz mal. Não saber como fica depois dessa tal de morte, essa fingida, sátira, sarcástica, linda, indomada morte. Descascá-la como quem arranca as pétalas de uma flor, transformá-la na cura de toda dor, ou rir na cara dela como quem não precisa se libertar da vida, como quem nunca chorou por amor.
Ah, temer a morte me faz sentir viva! Três vivas para a vida!
E se a sina da caneta for me torturar, ela pode tatuar em mim toda dor sofrida. Em mim os desenhos que feliz vou sorrir, na qualidade de portador, todas as lembranças vividas, todas as histórias inventadas, todas as mentiras sentidas e as verdades esmagadas, todas essas manchas na minha folha têm sentido. E eu vivi cada uma delas INTENSAMENTE, o melhor que eu podia ter vivido.

Vídeos

Pessoas lindas, recomendo estes três vídeos que se seguem.

-O 1º é o Abraço da Paz na Ladeira dos Tabajaras, todo mundo lá no Canto da Poesia. Foi gravado pela Record e tudo... Foi a primeira apresentação do Elllas&Os Monstros. Nem fala, é incrível como a gente mudou de lá pra cá... -.-
http://www.youtube.com/watch?v=cb3ghO0eo_s



-O 2º é o 1º Lançamento da antologia HIPER, com direito a inundação. Foi naquela bendita sexta-feira treze de Março que inundou o Rio de Janeiro. Eu cheguei e fui embora. Ainda não era a minha hora, minha hora vai ser agora, próxima terça ;)  Dizem que foi um must!
http://www.youtube.com/watch?v=3RmOuG4CR8k



-O 3º é o lançamento do livro Contos de Todos Nós, da editora Hamas, um desafio durante a Bienal 2009, de fazer o concurso, selecionar os vencedores, editar e publicar o livro em apenas dez dias. Meu querido mestre e amigo Cairo Trindade participou e ganhou, tendo publicado o conto Fulana no Inferno, como contista estreiante. Parabéns Cairo! E nós fomos lá prestigiá-lo. Se liga no vídeo, gravado por Marcelo Mourão, editado por Personal Filmes.
http://www.youtube.com/watch?v=rSQIBeJw5v4

Lançamento HIPER e MoLA

Pessoas, hoje eu vim dizer a vocês que terça-feira, dia 20 de outubro, a Oficina Cairo Trindade estará re-lançando a antologia HIPER no Teatro Glaucio Gil, a partir das 18h30. O evento acaba cedo, então é melhor vocês chegarem na hora rs ;)
Aí vai a divulgação:




E além disso...dia 28 de outubro nós (eLLLas & Os MonstrOs) estaremos no MOLA (Mostra Livre de Artes) no Circo Voador.


Quem for curtir conosco (ou com a nossa cara), estaremos nos apresentando às 21h. É extremamente recomendável que vocês cheguem mais cedo. A entrada é gratuita das 20h às 21h30, após isso, pode preparar o bolso, passa a ser R$20. A partir das 23h começam os shows de música.
Então, boa sorte pra nós e boa viagem pra vocês. ;)

beijos azuis.


Isa Blue

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Ainda que eu mude de estado, dimensão ou plano..."





Engraçado como essa "crise" vem se arrastando por diversos posts...Deu pra sentir a carga lá atrás. Desde aquele sonho que eu tive com o portal se abrindo, milhões de pessoas assistindo, e a lua se desfazendo... Houve um turbilhão na vida da gente desde a abertura do portal 9.9.9 Mas é aquele turbilhão necessário. É quando as coisas se quebram em nós que a gente sabe onde está a nossa fragilidade. Mas sei que no final tudo fica bem. E não há motivo para sofrimento. As coisas devem ser vividas intensamente SEMPRE.
Há um senso comum de fazer planos, mas a gente tem que botar na cabeça que nossos planos são coisas nossas. Não se pode fazer planos para si e para o mundo. O resto do mundo também tem planos, e cada um segue o seu caminho, ainda que se cruze com o nosso de vez em quando.
Hoje eu me lembrei da Oração de São Francisco e pela primeira vez entendi o trecho "e é morrendo que se vive para a vida eterna" sem achar que o homi tava doido. A vida eterna é a nossa vida, essa mesma terrena, que é composta por vários ciclos, várias mortes. Morrer não é perder, morrer é transformar. Perdoar é matar um elo. E digo mais, matar uma coisa é perdoar(-se) pelo que ela poderia ter sido e não foi.



A Nave Escolhida
(Elllas&Os Monstros - poema coletivo)

Pintar é mudar,
transformar
perpetuar feito pedra
que se quebra e se torna
alimento do tempo
corrente de fluxo contínuo
que leva ao castelo
amar é um elo, amarelo
O elo perdido do DNA
lacuna singela a ser preenchida
O Sol na janela da navel escolhida.



Missão
(Eduardo Tornaghi)

É preciso escrever!
E pintar!
Furiosamente!

Há muito papel no mundo.
Forçoso decorá-lo.
Afinal ele vai pro lixo.
Não pode se apresentar em branco.

A celulose dura muito tempo.
Carece vestir um vestígio
que preencha tamanha eternidade.

O grande baile dos sentidos.
O ilusionismo do "ou não", o fugidio
permanente impermanente.
O ponto de encontro
de todo papel com a gente.
Então: é festa! dançar!
cantar!
Furiosamente!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A ConsPiração dos Versos





a consPiração dos versos

A poesia não passou sozinha,
notou o velho trovador
e também notaram as garças;
A poesia estava atordoada
e os poetas viscerais notaram
e notaram os silêncios embutidos em palavras vagas:
A poesia estava grávida.
Ela se perpetuava e era certo
que a obra não estaria nunca completa,
engravidara de um poeta.
E se perguntou se era chegada a hora
dando à luz a milhões de versos diversos.
Ela se voltou aos seus filhos e disse:
- Vão conhecer o mundo
e me digam se lhes basta.
E seu condão deu-lhes asas.
Eles logo entenderam a mensagem
e começaram a se expandir e procriar entre si
pois o mundo era uma lástima,
não era maior que uma página.
E se você olhar direito
em cada canto tem um deles, pelo menos
Estão nas bocas dos poetas, nos goles de cerveja
nas mesas de bar, todos com uma certeza
todos aguardando uma porta para entrar
Estão na paisagem, no horizonte, no imaginário
estão que nem vírus, soltos pelo ar
E a poesia está tão orgulhosa de suas crias
elas sabem onde querem chegar.
Não tem poeta pra tanto verso.
Eles vão tirar o seu sono
e te ocorrer nas horas mais impróprias
vão te atropelar nas calçadas
e te afogar de palavras
Eles vão te invadir por todos os poros
não adianta se esconder, nem lavar as mãos
não adianta se fingir de louco
e tomar banho de roupa:
"Os versos estão à solta!"




Isa Blue

...E da crise nasceram crisálidas.

O problema dessas crises existênciais, ou seja lá o nome que têm, é que elas deixam bons poemas, mas impublicáveis! Que prisão um lindo poema impublicável! Mas isto é um blog e essa é a vantagem do blog, postar coisas experimentais e, definitivamente, coisas que não devem ser jogadas ao vento. Quantos textos já postei aqui com essas características! Por que não mais um?
Quero deixar claro, entretanto, que este texto foi escrito num momento de desespero e é um desabafo, e está sendo postado apenas pela carga poética. Jamais espero causar algum constrangimento para alguém.
Então, respira fundo E VIVA A POESIA!!!:








Entregue
(Isa Blue)


Mesmo que eu esteja contente
eu não estou inteira
apenas estou aqui
porque não tenho escolha
Não posso deixar de te ver
só porque você tem dúvidas
e eu tenho páginas
de vidas ávidas
Na sua frente
eu tenho que ser forte
mas quando abaixo a guarda
a lágrima me alarma
Não se engane, amor
estou aqui porque tenho esperanças
Mas a dor é muito grande
e tudo é muito difícil...
Ando beirando os precipícios
não tem um dia que não sinta
é o sorriso que cansa
e a força que mingua
Eu estou inquieta
mas não me entrego
e a certeza que trago
é a do puro amor
incondicional e cego.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Prazer, Espelho.

Não tem pergunta mais filhadaputa pra um poeta do que "Quem é você?". Cê quer o resumo ou as obras completas? Acho que o resumo é mais caro.






Olho e vejo. Muitas vezes, sinto. Quase nunca falo, porque não compreendo. Nem quero. Calar, não. Calar é querer dizer e não dizer, é ter as palavras e omitir. Eu não tenho. Pouca coisa tenho. Medo, não, às vezes, uma tristeza funda.
Ando olhando pra baixo porque meço minhas pegadas e reavalio tudo a todo instante. E eremito. Como se de nada e de lugar nenhum fizesse parte.
Falo comigo enquanto ando cismada, porque ninguém sabe conversar comigo feito eu. Nunca me darei uma resposta atravessada ou um olhar duvidoso. Gosto de falar das coisas que sei. O que não sei vira piada, pois em todo lugar cabe de ter bom-humor, até velório. Aliás, quando eu morrer, quero que tenha um sarau no meu velório. Eu, sendo a anfitriã, faço questão de que não haja nenhum minuto de silêncio porque o silêncio serve pra ouvir o que os ouvidos não podem. Na tristeza, o bom é gritar, não deixar calhar de o pensamento pensar. A morte é o eterno silêncio, dessa eu entendo muito bem, ando morrendo desde que nasci e acho até que já tenho esse cheiro de livro velho, capenga, de capa despregando do corpo.
Acho que minha cara já não faz parte deste corpo surrado e amarelo que ganhei. Acho, inclusive, que minha cara é uma capa muito sem propósito.
Não sou coisa comum, sou simples de se ver e se saber. Tem gente que nem sabe que sabe e me conhece melhor do que eu. É muito fácil olhar pra mim e ver por dentro, nem precisa arrancar meus olhos. Mas essa gente gosta de ficar imaginando entrelinhas. Eu gosto de entrelinhas no poema. Eu não sou um poema. Sou pessoa, assim, que de agora duvida se nasceu nesse mesmo planeta. Talvez eu seja um projeto de planta que anda e fala, mas não fala muito. Gosto de verde, de luz, de água, de primavera, de fazer fotossíntese... Aliás, gosto mais de fotossíntese do que de sexo. Sexo é uma coisa irrelevante. Não que desgoste, mas não tenho esse tesão de gente que tem fome. Amor eu gosto. Mais que tudo. Mas amor já tá feito, a gente só vem pra sentir. Sentir é o sentido da vida. Parece até óbvio demais. Mas o que é óbvio nem sempre está na cara, ou na capa. Aí eu sinto tudo e vou absorvendo aquela massa gelatinosa até virar outra coisa, porque é o sentimento que tem força pra mudar a gente. Pensamento não tem, não.
Eu até descobri, esses dias, que nem carecia de ser feliz. Felicidade é um estado de contentamento permanente, que é só uma ideologia, assim como outras idéias malucas que a gente inventa pra preencher esses espaços em branco da vida. Como a normalidade, por exemplo. Absurdos.
Aliás, o homem vive demais e não sabe pra quê. E, na verdade, não vive nada. A gente precisa tanto de tudo que é frágil que, no fim, os sentidos se perdem.
Gosto de tudo ao mesmo tempo e não gosto do tempo. Tempo é uma medida de perda. Não gosto de perder. Se fosse de brincadeira, tudo bem, mas nunca é.
Sou ansiosa, mesmo assim. Fico triste com pouco. Eu até achava que era dramática de sofrer por antecipação, mas na verdade eu tenho é um sexto sentido que me diz o que acontece antes de acontecer, pra não perder tempo, e eu nem sempre acredito nele e toda vez é tempo perdido.
Costumava gostar de mudanças, mas as coisas mudaram tanto que eu nem consigo mais.
Às vezes eu chovo também. Vou longe de ir virando máquina enferrujada. E eu sei que é depois da chuva que vem a terra fértil e o sol nasce mais quente, mas nunca acredito nisso na hora em que digo.
Dor de amor dura duas semanas e é uma das piores gripes que tem. Derruba mesmo. Mas aí chove, chove e, na data estipulada, essa nuvem seca e sai de cima da cabeça da gente. Amor que dói eu também não gosto. Mas quanto a isso, é absurdo falar. Amor não é questão de querer, mas de sentir. Dor de amor é pior que dor de parto, porque no parto a gente traz ao mundo e, no amor perdido, a gente mata, morre e ainda tem que se livrar dos indícios.
Eu sou uma pessoa que se sente viva e sabe que o tempo está virando à esquina. Quando calhar de olhar pra cara dele, que seja bem nos olhos e então aprender a adiantar e rebobinar a fita como manda a consciência.
Nem sempre eu tenho respostas, nem dias pra ficar procurando na bagunça do meu quarto. Quando acontece esse incidente, eu desligo, desplugo e reinicio. Dar boot é muito bom, mas nem sempre a gente consegue. Quando não sei o caminho, pego os caminhos do meio.
Às vezes procuro respostas nos outros, mas ultimamente não tenho feito isso porque os outros são os outros. Quê poderão saber eles das minhas respostas mais que eu? Passamos algumas vezes por elas e preferimos olhar pro outro lado. Tampouco me sinto no direito de dar respostas a alguém, ainda que isso me prejudique, pois seria antecipar algo que alguém não está pronto pra ouvir, aliás, nem eu pra falar.
Já falei das palavras. Tem hora que vêm as palavras mas não vem o contexto no qual dizê-las. Aí também não é calar, é esperar pelo momento. O momento, esse cara, sempre deixa a gente saber que está chegando, mas quando chega mesmo, a gente só vai perceber depois que passou.
Gosto de andar de ônibus, ver pessoas se olhando, ver e ser vista por um estranho que nunca mais. Desapegar pra não perder um ponto. A vida inteira são escolhas e atitudes de quando puxar a cigarra. Desapego é preciso e a gente gosta porque, no fundo, ninguém quer ficar sofrendo com despedidas. Se eu pudesse, ficava feliz, dava festa, soltava rojão...mas "despedir dá febre", como disse Diadorim. Tem que desapegar, soprar pra soltar o nó e pensar que esse suor frio é fome, e depois não pensar mais nada.
Meus passos fazem o caminho que me leva pelo mundo. Às vezes piso flores, às vezes, esterco. Não me preocupo em limpar os pés antes de entrar, porque, mesmo que eu quisesse, meu caminho percorrido entranhava neles e diria: "meu amigo, livre-se de todos os souveniers da viagem, mas não esqueça a bagagem no aeroporto."
Vou tentando pescar peixes voadores, torcendo pelo mocinho e pelo bandido, pra dar empate, procurando um lugar comum que me aceite, chovendo, pintando dragões com vermelho e pedrinhas de amarelo, matando quimeras, guardando passos, amando outros e morrendo de tempo.

Quem é Você? Muito prazer, Espelho.




Isa Blue

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

As Flores Pisadas




Eu não quero mais correr
ainda estou no mesmo lugar
e te perdi de vista
contigo os meus portais pessoais
e as chaves pisadas pelo chão
nos meus pés as pedras quebradas
perpetuadas multiplicadas ao infinito
sangue e perfume
o perfume das flores amassadas
que não se cansam de ser belas
e sinceras ainda que não haja respostas
No silêncio das pedras, a terra espera
o que me falta de força
lhe sobra de fértil
para trazer as flores de volta.



Isa Blue.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O amor abre portas e portais






"Eu quis voar
para escapar do perigo
enquanto abria as janelas
o bandido tentava
matar meus amigos.
Inocentes foram mortos,
muitos ficaram feridos
mas eu não podia levar todos comigo."









No céu um portal se abriu

um pentagrama devidamente circulado

pela luz da lua lilás

e atrás,

ela se desfazia em pedaços



Num lugar onde a história

recomeçava

e os contos eram meras monossílabas



Todos sabíamos da teoria

e estávamos todos despreparados.



(Isa Blue)

Quis Falar... (Isa Blue)






Quis falar, mas ainda não tinha as palavras. Pensava que não valia à pena dizer o que sentia, pensava que era forte o bastante para agüentar, que um dia ele mudava e passava a prestar mais atenção nela.
Percebeu que se calou muitas vezes, passando por cima de si mesma para não magoar o parceiro, pensando que seus princípios eram, de fato, apenas caprichos. Não entendeu, de imediato, que isso era o que ele queria que ela pensasse.
Ela ainda acreditava nele, que um dia se casariam, que criariam seus filhos e morariam numa casa com quintal e cachorro...Ou talvez, acreditasse apenas nesse sonho e estivesse cega para tudo ao seu redor, inclusive para ver quem era a pessoa ao seu lado.
Ela achava que sabia muito sobre a vida e sobre o amor, achava que já tinha sofrido muitas desilusões. Talvez fosse porque ela só tivesse vivido ilusões, miragens do que ela achava ser o amor. - Um reflexo muitas vezes pode parecer a imagem real, mas é só uma projeção. E o que eles chamavam de ‘amor’, se confundia mais com a sombra e a solidão. - Ela tinha medo de falar, porque as palavras que ela conhecia o afastaria de vez da sua vida, pois eram palavras contaminadas de mágoas e rancor por tantos anos em silêncio.
Mas quando ele se afastou, ela percebeu que podia viver sem ele. E que, pra bem dizer da verdade, vivia até melhor. E o medo que ela sentia era somente do desconhecido, do não saber de amanhã, não era medo dele, nem por ele. Nenhum cuidado foi tomado diante do mito do amor que eles, um dia, sentiram.
Ele já não a amava mais, mas não quis aceitar que ela tivesse tomado a iniciativa de terminar definitivamente, se por tantas vezes ele terminou e voltou depois por insistência dela. Essa era a diferença: ela assumira a palavra que ele tantas vezes tinha desperdiçado.
E ela se sentiu tão bem quando se viu livre daquele peso enorme que, no dia em que terminaram, ela pôde, finalmente, conversar com ele, abertamente, pela primeira vez. E quando as palavras vieram, foram todas de uma vez, embriagadas de uma mágica única que é poder falar sem sentir culpa.

Depois dele, ela começou a trabalhar com a palavra e viraram amigas inseparáveis.

Mãos de tesouros




Por muito tempo deixei as coisas práticas em segundo plano, achando que se já sabia a teoria e sabia como devia ser, então não precisava praticar. Erro. 10 pontos a menos na carteira.
- Às vezes não me reconheço quando olho no espelho. É necessário que alguém me olhe e diga o que vê. E não é todo mundo que aceita fazer isso de graça, assim sem cobrar nada. -
Mas chega um determinado momento que as teorias se limitam. É preciso viver além de letras e vozes.
A poesia é o meu recreio, é onde consigo viver e escrever sobre o que sinto, e não falar apenas sobre a mudança de tempo ou o trânsito intenso. Deve ser por isso que tento levar a poesia e disseminar pelo mundo real. Para unir as pessoas que sentem e não apenas passam.
Muitas pessoas já passaram por mim e disseram que poesia não leva a nada. A essas, meus mais profundos pêsames, elas já não sentem, pode enterrar.
A poesia luta para achar espaço entre as artes mais rentáveis. Quem consegue sobreviver apenas disso, ou deu muita sorte ou foi muito esperto. Mesmo assim eu insisto. Porque não sei de que outro modo poderia ser. Não é mais uma escolha, é uma condição.
Por que escrevo? Escrevo porque me sinto viva. Vai perguntar pro passarinho porque ele tem asas, vai perguntar por que a chuva é molhada, pergunta pras folhas amarelas por que elas se suicidam...Com licença de Paulo Leminski, "Escrevo e pronto. Escrevo porque preciso. Preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso!"


Motivo
(Cecília Meirelles)

Eu canto porque o instante existe
E minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste;
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento
Atravesso noites e dias
Ao vento.

Se desmorono ou edifico
Se permaneço ou me desfaço
Não sei, não sei
Não sei se fico ou passo.

Sei que canto e a canção é tudo
Tem sangue eterno e asa ritmada
E um dia, sei que estarei mudo
Mais nada.



Sobre a Criação
(Isa Blue)

Não é meu
Não é meu o poema que escrevo
plagiei a idéia do inconsciente humano
roubei a criação de deus
para divinar o poeta, confesso
o poeta, e não o poema.
Mas vergonha maior é Ter feito eterno
todos os poemas
e etéreos todos os poetas
para que nunca se encontrem neste plano
Não é meu
Não é meu o poema
eu nem escrevo poemas
Eu escrevo o desejo de encontrar o poema
e dilacerá-lo pela minha saudade
das coisas que eu nunca vi
escondidas nas suas linhas.
Não é meu
Não é meu o poema
agora está feito
é do mundo, de quem o lê
dê os direitos autorais ao poema
é o poema quem escreve o poeta
minha criação já estava criada antes de mim
eu só passei para vê-la
e em vez de vê-la,
senti, sentei e escrevi.


O poeta.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Renascendo das Cinzas

A preguiça fugiu de mim. Acho que o dia de hoje me fez tão bem que me deu até vontade de arrumar o quarto. Como eu poderia arrumar meu quarto se minha vida estava dando nó?
A última semana foi mesmo de morte e acho que está tudo renascendo mais florido.
Há coisas para repensar, vasos para consertar, pegadas para limpar, muitos caminhos terão de ser fechados, mas as placas de sinalização estão bem grandes e claras, de modo que nem a minha miopia poderia deixar de perceber.
Já esvaziei mais uma caixa, já cobri minha cama e troquei os lençóis, guardei bons passados no fundo do armário, juntei papéis inúteis e arrumei um cantinho na estante para a poesia crescer. Amanhã eu guardo as roupas e encho algumas prateleiras. Pintar minha parede seria uma boa desculpa para não sair de casa. "Pintar é mudar, transformar(...)" E minha vontade de sair é nula. É preciso dedicar algum tempo ao renascimento.
Here comes the sun, tchurutchuru...






Como uma Fênix
(Isa Blue)

eu queria morrer em teus braços
chamando teu nome
um sussurro surdo um afago
e eu morreria feliz em teus braços

eu queria morrer em teus braços
ouvindo-te pedir que não
um pingo de dúvida ou uma exclamação
e eu morreria em paz em teus braços

eu queria morrer em teus braços
fitando teus olhos lassos
talvez um pouco de desespero
e eu morreria inteira em teus braços

eu queria morrer em teus braços
contigo me cobrindo de atenção
o teu toque suave ou destemperado
e eu renasceria em teus braços




GUARDAR
(Antônio Cícero)

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

domingo, 30 de agosto de 2009

A Morte

Semana passada tirei A Morte no tarô. Quer dizer mudança, transformação. Eu sabia que estava numa fase de mudança, mas a última semana me surpreendeu bastante. Várias coisas morreram nesses dias, ciclos se fecharam e eu tive que trabalhar o desapego, pois se algo foi encerrado, você tem que abandonar, abrir mão, senão você não permite que coisas novas aconteçam para você.
Meu último ciclo, eu não gostaria de ter que fechar, mas as coisas só morrem quando têm que morrer, quando não há outra forma. E eu aprendi, com a Biodanza, que, ao contrário do que muita gente fala, não é preciso sofrer para aprender algo. Vivências ensinam e mostram que se tem muito mais respeito consigo mesmo do que quando se permite entrar em sofrência. E isso eu não vou mais me permitir. Sofrência não é só questão de extremos. Quando eu sinto que vai me fazer mal, eu abro mão.
Ciclos se fecham na minha vida. O próximo passo é sempre rumo ao desconhecido. E que ele me leve.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mergulho

Um dia desses eu peguei todos os meus poemas inacabados e dei fechamento. Assim como tenho fechado muitos assuntos na minha vida. Tirei a morte no tarô. Transformação. Mas antes de transformar, é preciso eliminar assuntos inacabados. Essa tem sido minha ocupação nos últimos dias. E em tudo eu vejo pontos positivos.
Estou morando no Humaitá, de frente para uma árvore onde sou presenteada com cantos de todos os tipós de pássaro, o vôo parado e agitado dos colibris, agora mesmo passou um mico saltando de lá pra cá. E sem falar na vida boêmia de botafogo bem na minha frente. Esse estar no meio de tudo com o Cristo sem cruz de um lado, a mata atlântica e a enseada do outro, os incontáveis bares no meio do caminho, as pessoas tão simpáticas e familiares num pedaço tão gostoso do Rio de Janeiro que dá vontade de morder...é isso que tem me inspirado incontrolavelmente. E, mais que tudo, estar com os amigos, acompanhar a ascensão do Elllas&Os Monstros, me encher de projetos e renovação... e por tudo isso ser grata, é por tudo isso que sou realizada.



Mergulho
(Isa Blue)

Quando as minhas asas
mergulhavam sobre suas asas
nas cópulas dracônicas
como duas águias
a se atirar do céu
estateladas de azul
os dois sóis tornavam o mundo
um lugar impossível
onde todas as coisas não mais
Apenas as suas asas
protegendo minha alma
o vento sobre a paisagem
o vôo sobre a liberdade
o sol subindo em nós por dentro
sangue fervendo pele cedendo
infinito pássaro sedento
pelo momento sublime
que não reprime que não limita
e dança etéreo elemental do ar
onde nada pode ser mais real
do que o sonho de voar
Olá, pessoas lindas, me desculpem a ausência, estive ausente até de mim, por conta da mudança. Só hoje vieram colocar a internet e me dar essa alegria de voltar ao blog e ver os comentários novos, as pessoas novas que andam seguindo o Ponto de Fusão. Muito obrigada pela presença de vocês.
No momento, há caixas espalhadas pelo meu quarto de coisas que eu não consigo encontrar um espaço pra elas na minha vida. Seja um fichário que, de tão antigo, tem uma traça dentro e eu tô com nojinho de abrir, seja uma coleção de chaveiros, ou a preguiça de limpar bonecas que eu não tive coragem de me desfazer e mesmo a coleção da Moranguinho...Onde eu vou colocar isso? Trancafiar no armário?
Felizmente estou com um computador direito agora. Dá pra ver a tela inteira, tenho caixinha de som, achei todos os meus arquivos, consegui pegar até os ebooks que estavam no notebook e meu livro, felizmente, está mais do que salvo. O único inconveniente é que ele é meio arcaico, estou com um XP que deixa tudo meio leeeeeeeento. Por isso volta e meia trava tudo aqui e tenho que reiniciar. Abrir duas janelas de internet é arriscado. Ouvir música então, só se estiver trabalhando no bloco de notas, rs.
Mas as novidades boas são: acabei de fechar meu livro. Tá tudo bonitinho, em seus lugares, tava acabando agora de fazer o índice quando travou tudo e eu vou ter que recomeçar...afff! E ontem o Elllas&Os Monstros fizeram uma belíssima apresentação no Essencial da Lapa, no sarau Poesia Legal do JL, Louis Alllien e Glorinha Gaivota.
Esta apresentação, pra bem dizer, foi um ensaio do que faremos no Sábado, dia 29, às 23h no show/ensaio aberto da nossa diva Mônica Montone.
Abaixo segue a divulgação e quem quiser ir, por favor, me confirme por email até sexta-feira e chegue cedo, pois são apenas 80 lugares, para os 80 primeiros e com nome na porta. Tá pensando o quê? Chiquérrimo.






Elllas&Os Montros
Cinco cabeças poéticas, sonoras e performáticas.
5, 4, 3, 2, 1...DECOLAR!!!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Encaixotando o passado

Bem, como vocês sabem, estou de mudança, e esta semana ainda estarei entrando no apartamento novo.
Andei mexendo na gaveta dos papéis e encontrei diversos cadernos antigos. Logo, comecei a ler, até pra saber mesmo o que ia jogar fora e o que ia pra caixa. O resultado foram horas de nostalgia. Impossível evitar. Letras de música, poemas e diários me levaram para outra época.
Posso compartilhar duas letras com vocês?



Cartas
(Isabela Figueiredo)

Pule a janela
verifique sua sala
Veja se encontra minha carta
e uma rosa vermelha

ou feche as janelas
e nunca mais abra
ou mude de casa
assim tudo se perderia

Não deixe essa história como está
sou eu quem liga e nada fala
eu preciso de mais algumas falas
que leia uma última carta

Tem gente que tá que tá
perdendo tempo
e o tempo já passa entre os dedos

Como um tolo
eu vou sempre te amar
sem esperanças
sem espectativas fúteis
Não ligo que não me enxergue
nem que não se enxergue
Te deixo um espelho de presente
e uma foto minha

...Eu preciso te amar sem espectativas...



Canção Poética Para Um Grande Amor
(Isabela Figueiredo)

Quando os anjos trouxeram você
inspirou minha vida
e toda poesia se transformou
em canção e magia
todos os deuses se juntaram
te criaram com sabedoria
pra me levar ao caminho certo
enfrentar todos os desafios

E eu sei que não há final, não há final
para um grande amor como esse
tem que ser mais que radical
pra acabar com a gente

Quando reparei em você
tive medo de ser muito tarde
fiquei com medo até de dizer
pavor de que você recusasse
Mas foi bom demais, mais que demais
e melhor, foi verdade
eu que acreditei no nossso sonho
e se tornou realidade

E eu sei que não há final, não há final
para um grande amor como esse
tem que ser mais que radical
pra acabar com a gente

Ponto de Confusão

Você já teve conversas imaginárias de sair da realidade por alguns instantes? Já criou seres, lugares, situações onde tinha que resolver determinado problema(às vezes nem tão determinado assim), esclarecer alguma coisa ou simplesmente refletir? Bem vindo ao clube. Nós não somos loucos, somos só pessoas que criam estratégias para não ficar atormentado com tanta coisa na cabeça e por isso criamos um espaço, digamos, 'fora da Matrix', para resolver estas questões.
Segunda-feira foi dia de Biodanza e eu, como sempre, saí de lá com algumas questões.
Hoje estava no gtalk e contei para dois amigos mais íntimos, que fazem Biodanza comigo, o que havia se passado e, de repente, me vi no feedback da semana que vem conversando com o grupo sobre o que aconteceu. Divaguei tanto que cheguei à uma conclusão. De repente um baque de volta pra realidade. Me dei conta que estava em outro lugar, em outro tempo e quando se quebra esse elo, eu volto ao que estava fazendo antes disso. Mas sabe o que é ficar completamente ausente para todas as coisas ao seu redor, como num sonho?
Bem, e nessa ausência de mim(que é uma viagem pra dentro), eu estava falando para a turma que fiquei reconsiderando o feedback da semana anterior, onde uma amiga tinha falado que tinha dificuldade em 'qualificar a despedida'(isso quer dizer, em uma vivência de encontros e despedidas, você se encontrar com uma pessoa do grupo, abraçar por inteiro, com entrega e se despedir com firmeza/gratidão/desapego, virar as costas e procurar outro abraço, pois há outros braços à sua espera), pois sempre lhe vinha à cabeça que "nunca mais vou ter este abraço".
E, mantendo a ordem dos acontecimentos, durante a aula, depois de uma profunda vivência de massagem no companheiro, levantamos juntos e tínhamos que nos despedir e procurar outros abraços. Não foi nada fácil. Confesso que fiquei mal. Melhor jeito de explicar é que saí daquele abraço de coração partido. Não foi um desapego, foi um afastamento. Saí da Bio super yin e assim estou até agora. A diferença é que agora estou começando a entender o porquê.
Quando fui pensar, no dia seguinte, sobre a frase da amiga no feedback, me liguei que em todos os meus antigos relacionamentos, fossem amorosos ou amizades, eu usava isso para me prender às pessoas das quais devia me afastar. Não eram as pessoas que me prendiam, mas o pensamento de que se elas fossem embora, "nunca mais teria aquele abraço", "nunca mais teria aquela companhia", "nunca mais aquela alegria", "nunca mais, nunca mais". E outro dia mesmo eu me peguei pensando que quando o meu relacionamento atual terminasse, eu "dificilmente encontraria alguém tão legal, que me completasse tanto". Acho que isso é normal, quem, em sã consciência apaixonada, nunca se pegou repetindo esta frase? Mas só que eu não quero mais essa dependência pra mim. Todos os relacionamentos na minha vida foram baseados na dependência. Eu não conseguia entender o porquê. Será que eu era uma menina carente? (detesto essa palavra!) Ou imatura? É claro, quando você não sabe em quem jogar a culpa, ela recai sobre a criação. Mais especificamente: a culpa é sempre dos pais.
Sou filha única, minha mãe me criou me superprotegendo, ela tem noção disso. Ainda quando eu era criança, alguns acontecimentos também ajudaram para que ela sempre redobrasse a atenção em mim. Assim, só fui ter liberdade mesmo depois dos 18 anos. Minha juventude foi atrasada. Não fiz nenhuma besteira na adolescência que me arrependesse pro resto da vida. Não tomei porre. Não fugi de casa. Não ia àquelas festas nos sítios que sempre dava alguma M*, rs...Acho que ela me criou tão dependente dela que qualquer problema eu já nem pensava, corria pra ela. E durante a adolescência, esse espírito de dependência foi automaticamente transferido para a relação com os amigos, paqueras e namorados. Tanto que minhas amigas podem provar (e os cadernos antigos também não deixam mentir): todos meus relacionamentos foram muito intensos e sempre coloquei uma espectativa muito maior nas pessoas do que elas estavam dispostas a me oferecer.
Neste momento estou vivendo um tipo de relacionamento onde isso não cabe e volta e meia me pego brigando com meus pensamentos. Tem uma parte de mim vestida de passado que se agarra em tudo que já vivi e que me foi ensinado e outra parte que é feita de invisível que sabe que isso é besteira e quer se livrar desse peso desnecessário. Hoje em dia eu quero algo diferente pra mim. Não quero mais essa dependência, tenho que jogar fora. Eu estava indo muito bem até o último feedback. Mas comecei a pensar nisso e ver onde estavam as raízes e tudo virou meio penumbra.
Estou completamente dentro de mim, me sentindo muito cansada, no casulo. Mas é positivo estar no casulo, significa que dentro de pouco tempo virarei borboleta.
Vê como é importante essa capacidade de ter conversas imaginárias? Eu sempre digo: Eu não falo sozinha, eu sempre estou falando com outra pessoa que, por acaso, não está lá naquele momento.
Doida, eu? Imagina! ...apenas auto-suficiente.

sábado, 11 de julho de 2009

Regressão

Há muitos séculos atrás, na Idade Média, a bruxaria era condenada e as famílias que praticavam a Velha Religião eram perseguidas.
Astarte era uma jovem menina na época, recebeu este nome de sua mãe, praticante da Velha Arte. Ela e sua irmã já se iniciavam na bruxaria bem cedo.
A mãe de Astarte, não agüentando mais a perseguição dos vizinhos, teve que fugir para um lugar bem ermo, onde só se pudesse chegar atravessando uma traiçoeira floresta. Mas sua mãe conhecia os segredos da terra e seguia os sussurros da Deusa. Um lugar onde estariam seguras, longe do povo de sua aldeia, onde pudesse criar suas filhas em paz. Ali se instalaram e levantaram sua casa. Foi neste lugar que Astarte viveu até o dia que se viu sozinha.
Um dia chegou um cavalo com um cavaleiro ferido a seus cuidados. Astarte lhe deu abrigo, água, comida, tratou de seus ferimentos e em sua casa ele repousou por longo período, até se recuperar. Este cavaleiro lhe contou que havia sido ferido durante a guerra e que seu cavalo devia ter se embrenhado sem rumo na floresta, até chegar ali. Enquanto ele esteve lá, os dois tiveram um romance intenso. Porém, o cavaleiro, de nome Rafhael, tinha outra pessoa em seu coração; uma jovem que cuidava dos doentes e acolhia os rejeitados.
O tempo passou e Rafhael seguiu seu caminho, deixando Astarte para trás, mas prometendo voltar.
Houve outras oportunidades, se encontraram outras vezes, ele contava à Astarte as novidades da cidade, das guerras, de outros povos...
E ele sempre deixava Astarte prometendo voltar um dia.
Entre uma ida e uma volta, às vezes, sentava na mureta de pedra e olhava fundo o horizonte, e esperava.
Porém, da última vez que ele apareceu, estava preocupado, agitado, alguém havia batido para a guarda que a sua amada abrigava inválidos e ela foi levada e presa. Rafhael estava tramando um plano para resgatá-la.
Talvez Astarte tenha sentido que ele fracassou quando não mais voltou. Talvez Astarte tenha previsto que não era seu destino ficar com este rapaz, mas ela o amava tanto, que não podia prendê-lo. Ela apenas aceitava.
Os anos foram se passando e, sabendo do não-retorno de Rafhael, Astarte foi se conformando. Ela vivia além da floresta, e nunca ia na cidade para nada. O isolamento era sua única segurança.
Mas, sem ter mais notícias do mundo além-floresta, ela também corria perigo. Ela não sabia que as coisas andavam conturbadas. Não sabia que a caça às bruxas estava no seu auge. E, tanto não sabia, que foi pega de surpresa quando as tochas chegaram, queimando a floresta. Alguns fugitivos tentavam escapar, mas o fogo se alastrava com facilidade. Astarte ainda lembra dos ramos de verbena queimando nas janelas de sua casa. E quando a levaram para fora, e amarraram seu corpo em cima de uma fogueira, ela não pensou na dor, pois ela não conhecia a dor. Ela vivera de e para a Terra. Ela era a água, o fogo, o ar, a terra e o espírito.
Quando as chamas alcançaram Astarte, ela já não estava mais lá. Seu espírito assistia a tudo de cima enquanto os incendiários se deliciavam com a fúria do fogo que contorcia seu corpo, sem saber que o fogo se apiedara do seu espírito.
Ela ainda reencontrou Rafhael em outra vida. Mas ela sabia que o seu destino não era dela.
Astarte reviveu quando foi lembrada. Hoje a mulher que possui um pedaço do espírito de Astarte, luta contra a cidade para não se apagar, para conseguir estar em tão alto nível de desconhecimento dos comos e porquês e se concentrar apenas na Mãe-Terra e em tudo que ela tem para oferecer se você souber trilhar seus caminhos e escutar seus sussurros.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Recortes

Pré-Script: A estréia do Elllas&Os Monstros foi fantástica! A nave pousou primeiro no Tabajaras, onde acontecia o Abraço. Fomos filmados pela Tv Record e registrados também pela Denizis Trindade. À noite foi a vez do Artmosfera, onde aconteceu a estréia oficial do grupo. Nunca houve, na história do Artmosfera, uma noite tão poética.

"Um lugar onde as pessoas sejam loucas e superchapadas"

Aaauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

Em tempo,

Achei um caderno com umas coisas que escrevi e não lembro em que momento, e menos ainda me identifico nestas palavras, mas acho que vale à pena guardá-las.



"Quando éramos crianças
tudo parecia mais concreto
até os sonhos não seriam em vão
hoje me surge desconfiança
e meu corpo está desperto
na alma de um ancião."


"Guerra santa é aquela
que fazemos a sós
debaixo dos lençóis"



"Sua sombra pousou em mim
como se sua pena me desse asas"


"Nos jardins das cidades
poetas marginais
roubando pão
e assassinando palavras"



"As palavras que estou guardando
merecem ser ditas sob uma luz laranja
inebriante
ao fundo, uma cortina fechada
recortada
sob um cenário muito antigo
pois há muito estão trancadas
no meu íntimo
esperando o momento que às valha
e a personagem a quem às digo."

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ellas&Os Monstros

Amanhã, sábado, 27 de junho, é dia de Abraço na Ladeira dos Tabajaras. Os poetas estarão fazendo ponto na pracinha ("Canto dos Poetas" - Rua Euclides da Rocha, 120) das 14h às 15h. E também é dia da estréia do coletivo poético Ellas&Os Monstros(Isa Blue, Clauky Boom, Madame She, Louis Alien e Lucky Luciano) no Rio Artmosfera (Rua Silveira Martins, 135 - Catete), junto com Cairo e Denizis Trindade, a partir das 20h. A entrada é R$10(normal) e R$5 (lista amiga) - Cerveja(lata) a R$2,50.

Bom sábado pra todos!



Poema para levantar naves
(Louis Allien)

Uivemos a vênus
como loucos lobos nús
em nossa sandice
cantaremos para Alice
atravessando o espelho
até que o azul vire vermelho
abrir-se-ão novos portais
para outros dias imortais
onde todos serão um
lucky isa alien she boom

terça-feira, 23 de junho de 2009

Poemas Coletivos

Poemas que nascem de várias canetas têm mais mérito. Esses vieram direto da nave, na torre mais alta do castelo, onde o portal e os cadernos se abriram para Ellas&Os Monstros.

Integrantes:
Ellas - Miss Boom (Clauky), Mme She (Sheyla de Castilho) e Isa Blue (Isabela Figueiredo)

Os Monstros - Lucky Luciano e Louis Alien



o boato abateu a beata

a beata foi à boate,
caiu no barato do abate,
dançou com Linda Blair
cuspindo suco de abacate.

daí rolou um boato
que virou fato:
fatidicamente,
subsequente,
o boato matou a beata
numa praça suja da Lapa.





Humaitá pra Poeta

crie
tudo aquilo
que eu não cria.
burile
tudo o que
eu não bacilo.
não vacile
enquanto canto
o preencher do vazio.

ouça essa Orson Wells:
well...
palavras gravadas
alimentam meu viver.





humaitando

eu só como carne viva
quando ela suspira.

e ela nunca vem sozinha -
carne quente ao sol poente,
tempero da mente.

à quebra do sisal,
em ritmo sazonal
ou em dia de sarau.

mas nunca vai embora
antes da maldita,
bendita predicada
hora agora afora
onde o mundo,
como a rosa,
desaflora.





ultimato

chega, chega, chega!
tenho certeza:
se continuar assim
vai de mal a mal.

querem o mundo maquinado,
maquiado de mundo são,
mutilado.

multi-lados
todos os lados,
lado A, lado B
dois perfis de você,
perfilados em dados.

talvez sejamos mesmo
dados a rolar,
jogando charme
de pobre coitado.

porque nunca fomos anjos,
embora nascidos alados.





Humaitá - Rio de Janeiro - domingo - 21 de junho de 2009 - madrugada

sexta-feira, 19 de junho de 2009

AMORGASMIX

Vou postar este a pedidos. É um dos mais antigos e um dos que eu mais falava, daí enjoei, fiz outras coisas e deixei esse de lado. Esses dias tirei da gaveta no POLEM e ele fez enorme sucesso. Então tá aí, renascido das cinzas, rs


AMORGASMIX-TEXTUAL
(Isabela Figueiredo)

(doida pra te pegar de jeito)
Deixar sua antítese no travesseiro
rolar pelo sofá de onomatopernas
adverbiar todo seu tempo
palavreando casa vírgula e etcétera
as reticências dos gemidos surdos...
Quero seu sujeito no meu pronome
lambendo entre as minhas aspas
até eu gozar agudos e crases
pra todos os lados
Conjugar nossos paradigmas sem nome
até que você trema
Mas o que vale é imperar
indicativo no subjuntivo
esquecer que há pronomes possessivos
e virar um adjunto do outro
sem lugar, tempo ou objeto
Quero verbos transAtivos
que circunflexem sobre sua frase
para, entrexclamações,
infinitoparoxitonar elipses orgásmicas

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O portador da Luz

Não sei o que é mais difícil. Dar banho na minha cachorra ou fazer nebulização no Lucas. Acho que com o Lucas eu uso mais força. Quem vê, não consegue acreditar, parece uma tortura. Ele se vira e revira e se expreme e se esvai em lágrimas e gritos. Eu boto as pernas dele por baixo das minhas, abraço pra segurar um braço, viro a mão pra tentar segurar o outro enquanto ele investe pra todos os lados querendo se soltar desse nó humano. Sem falar da cabeça que tem que ter uma segunda pessoa segurando. Ele é mais forte do que eu com apenas 1 ano e meio! Parece o bambam!
Certamente houve algum equívoco. Eu não nasci pra isso.
Nunca disse que era uma boa mãe. E pra ser sincera, não sou mesmo das melhores. Gosto da noite e, principalmente, da madrugada. Estou numa fase em que estar com os amigos é a coisa mais importante do mundo. Gosto de tomar minhas cervejas e da liberdade de não ter hora. Gosto de ir a saraus, teatro, cinema, shows... E meu filho ainda não pode me acompanhar. Quer dizer, poder até pode, mas aí eu não vou aproveitar nada, vou ficar correndo atrás dele o tempo inteiro, como já aconteceu. Ele não pára quieto! Nem parece meu filho. Mas nem dá pra dizer que foi trocado na maternidade, pois o caso dele era inconfundível, nascendo de parto normal às vinte e oito semanas e ainda no quarto do hospital, sem assepsia, sem nada.
Segundo uma amiga, os espíritos escolhem seus pais antes de vir para este mundo. Mas por que razão alguém me escolheria como mãe? Várias mulheres ficam anos tentando satisfazer seu desejo de engravidar e não engravidam. Penso que ele não está aqui por minha causa, acho que a missão dele é muito mais abrangente. Quando ele estava na barriga ainda, e eu estava cheia de crises e complexos, tendo sangramentos, sem saber se ele tava bem ou não, eu rezei e perguntei por que isso tava acontecendo. E a resposta que me foi dada foi essa. Que essa criança que se formava no meu útero, ia ser muito importante para esta época que está nascendo agora. Eu não tinha idéia do que isso significava. Mas depois disso eu não tive dúvidas que ele ia nascer bem e saudável.
E acho que é por isso também que eu não me preocupo tanto. Quando vou sair à noite e deixo ele com minha mãe, sei que ele vai ficar bem, nunca tive medo realmente por ele. Lucas é forte. Ele vai encontrar seu caminho quando for a hora, eu só vou auxiliá-lo.
Mas por que tem que dar tanto trabalho, meu deus?

domingo, 14 de junho de 2009

O Sapo e o Rio

Tenho paixão por sapos. Adoro! Principalmente os que viram príncipes, mas normalmente são os príncipes que viram sapos depois de certo tempo.
Um dos sapos que mais gosto é o Sapo Bufão, pelo saudoso Alexis Sauer, integrante dos performáticos SabaSauers. O último registro do Sapo Bufão foi feito na Semana da Poesia e o vídeo está no YouTube. Lucas também se amarra quando eu interpreto pra ele. Ele tenta repetir o BUF!
A primeira pelúcia que o Lucas ganhou, nem tinha saído da barriga, foi um sapo.
Sapos são animais fantásticos de serem admirados. Lembro dos pequenininhos lá na cachoeira do Horto. A sutileza com que se movem e a agilidade, se for preciso, tanto em terra quanto em água. Não é à toa que fiz um poema para eles.
Este poema já me deu o prazer orgásmico de ser confundida com Mário Quintana. Tudo bem que já tava todo mundo bêbado, mas deleite é deleite, não importa em quê circunstâncias.


Caso de Amor
(Isabela Figueiredo)

o sapo coacha na beira do rio
o rio murmura na beira do sapo
ele quer ouvir sua voz de fadas
e ele quer beber na sua foz calada
O sapo e o rio são tão diferentes;
um verde e um azulzinho
um corre outro pula
um coacha outro murmura
entretanto um mora no outro
e nasce o girino
na água pura

domingo, 7 de junho de 2009

Se Olho Pro Céu

Estou num processo de criação musical. Isso quer dizer que ando escrevendo muitas letras para serem musicadas e, lentamente, estão sendo. Esta é a mais nova:



SE OLHO PRO CÉU
(Isabela Figueiredo)

Quantas se escondem
debaixo desse seu olhar?
pra cada uma delas
eu tenho um jeito de amar
e cada uma delas
são tantas quanto eu quero ter
se eu ando variando
minhas várias amam suas eus
e cada estrelinha
me encanta se olho pro céu
...se olho pro céu
se olho pro'cê...

Quantas se escondem
debaixo desse seu luar?
pra cada uma delas
existe um jeito de brilhar
e cada uma delas
são tantas quanto eu quero ser
se eu ando variando
uma estrela refletiu você
é cada entrelinha
que se espreme quando olho pro céu
...quando olho pro céu
quando olho pro'cê...

é cada estrelinha
que se exprime se olho pro céu
...se olho pro céu
se olho pro'cê...

De Dentro Pra Fora

Caros seguidores, estou aqui com uma dificuldade danada de postar alguma coisa e nem é por crise de criatividade, mas sim porque meu filho me fez o favor de afundar a tela do notebook (aquele notebook de merda que deram para os professores do município), então metade da tela, e isso em diagonal, está com listras coloridas verticais e outra metade com listras horizontais, o que resulta nessta pequena dificuldade em acessar janelas maiores que cinco centímetros. Isso vale também para email, orkut e twitter, embora editar um texto seja muito mais árduo.
Eu, ainda procurando, vasculhando, revirando desesperadamente as tralhas atrás de um título para o Livro da Involução, assim apelidado e subtitulado. Algo que remeta à idéia principal do livro, ou seja, evoluir por dentro ou resgatar valores perdidos, reaproximar as pessoas através do amor, e - por que não? - por veículo da poesia, sendo que a poesia também pode ser uma forma de amor. Que atire a primeira pedra o poeta que nunca achou que havia algo de errado com o distanciamento das pessoas. Li uma postagem hoje no blog do Louis Alien (O Dia Depois De Ontem), que falava algo como "Virando do avesso, deve dar", ou seja, de dentro pra fora. Como é bom ler isso vindo de um amigo, tendo em vista que De Dentro pra Fora é o nome do primeiro capítulo do meu livro. Sinal que a Idéia é universal. Absorver essas coisas me preenche de esperança. Penso até que as noites boêmias no no boteco da Prado Junior, regadas à cerveja, roda de violão e, inevitavelmente, poesia, são uma forma de involução. Quer algo mais acolhedor e aproximador de pessoas que um boteco cheio de bebuns?
Tem um poema que fala assim " "Amai-vos uns aos outros", era tão simples. Mas o povo acha que simplicidade empobrece".
Por isso eu tenho certeza que são por esses caminhos de amizade, gratidão, companheirismo, cumplicidade que vamos chegar à uma forma de vida mais sensata(de bom-senso) - ou seria mais sensível?
Seja como for, a idéia me agrada.
É impensável negar esse meu gosto por poesia visceral, que vem de dentro rasgando tudo até a boca. Aquela que derruba e ao mesmo tempo te reconstrói. É disso que estamos falando. Não quero meu livro na sua estante, quero que ele esteja na sua cabeça. Quero te dizer tudo o que você já disse, mas não prestou atenção.
E, caso eu não tenha prestado atenção, alguém aí pescou um título?
Fiquem com um poema do livro:



A Anti-Saga Humana
(Isabela Figueiredo)

Eles me olham
como se eu fosse o culpado
Nunca vi tanto ódio assim
num só lugar
Só me mantém
com os braços amarrados
(Posso sentir seus raros sentidos
enquanto medem meu peso)

Eles são fortes
mas não viram o bastante
da beleza deste céu e mar
(Esse olho pra dentro é de matar)
Eles são firmes
mas têm a pureza de uma onça
De um só bote vão me devorar
(A sorte não é questão de sair ileso)

Eles são frios
até com eles próprios
Privam suas crias do sol
mal vivem em conjunto
E são tão pobres
(acham que bater asas é voar)
Tenho pena deles, soltos
porque não são mais livres
que eu, preso.

domingo, 31 de maio de 2009

Olhos nos Olhos ô.ô

Trio de poemas relacionados com olhos que fechei agora:


Olhos na Noite
(Isabela Figueiredo)

Teus olhos de gato
rasgaram a boca da noite
estava em cima do telhado
quando recebi o açoite
dois clarões amarelos
dois sóis etéreos
vibrando
realçados no cabelo de fogo.
Eu e meus azuis ficamos desamparados
eu que carregava o céu e o asfalto
perdida em luz
no mundo da lua...
Despertei
Teus olhos em mim
e eu sempre tua.
E assim descobrimos o amor tão simples
e a noite tão crua.




Visualização
(Isabela Figueiredo)

Quero uma foto sua
para ver seus olhos
enquanto estiver dormindo
Não me faça esperar
mais um segundo
ficar longe de você
é traumatizante
Você deteriora as horas
e faz
o espaço dos seus passos
reverter em abraços
E eu fico pensando
idealizando nossos encontros
sentindo todo seu corpo
como quem sente o perfume de uma flor:
sua boca em minha boca
suas coxas nas minhas
e todas as coisas
observando
enquanto fazemos amor.




Olhos de Gato
(Isabela Figueiredo)

Seus olhos me buscam
como um gatinho
debruçado no para-peito
à espera da presa

Seus olhos perfuram
como um gatilho
um tiro no peito
liberta a represa

...e pensamentos me inundam
por todos os lados.

Seus olhos intactos
miando, em cio, no telhado.